18 maio 2007

O Amor é Cego, mas nem Tanto!

Já ouvi dizer que o melhor para casar, é conhecer uma pessoa igualzinha à gente.

Mas também já ouvi o contrário: Que o melhor é alguém bem diferente, para agir como um elemento complementar.

Já vi uma pesquisa que mostra como as pessoas se escolhem por semelhança. E já encontrei, pela vida, um sem número de casais, bem casados, ditos cheios de diferenças.

Entretanto, responde-me depressa à seguinte questão: O que é uma alma gémea?


Se respondes-te: "É uma alma igualzinha à nossa", erras-te porque uma alma igualzinha à nossa é algo que não existe.

Acertas-te se disses-te "É aquilo que todos procuram!".

Se compararmos almas, ditas gémeas, entre si, veremos que não são forçosamente parecidas uma com a outra.

Basta que uma alma nos tangencie naqueles pontos mais sensíveis - os que consideramos constitutivos de nossa personalidade - para dizermos que ela é a nossa alma gémea.

Aqueles que se casam considerando-se idênticos descobrem, com o passar do tempo, a limitação desta identidade.

E aqueles que se casam atraídos pelas diferenças, surpreendem-se adiante, por serem tão mais semelhantes do que imaginavam.

O mecanismo é óbvio. Na hora da escolha, aquilo que mais nos atrai no outro torna-nos cegos para o resto.

Gradualmente, porém , recuperamos a visão, o nosso olhar fica mais abrangente e passamos a ver o nosso parceiro na sua totalidade.

Passamos a perceber então aqueles aspectos que havíamos ignorado porque não nos tocavam directamente.

Com o tempo, depois de termos estabelecido as regras da convivência, e superado o medo inicial da entrega, estamos em condições de descartar o artifício da alma gémea.

Não só começamos a conhecer de facto o outro, como passamos para um estágio em que, atribuindo-lhe defeitos que antes não víamos, fazemos questão de não nos identificarmos com eles. O que é importante agora são as diferenças.

Quando tu achas que entendes-te tudo e páras de prestar atenção à canoa, tem cuidado porque é nesse preciso momento que ela pode virar.

Aquele que escolhes-te para ser teu parceiro pode ser tão igual a ti como de diferente. Possivelmente , com o passar do tempo, deixa de ser uma coisa ou outra.

O problema é em que direcção as pessoas querem mudar, e se essa direção agrada ao nosso parceiro.

Não é nada que se possa realmente controlar, ou que se deva controlar.

Dá para se ter um jogo de flexibilidade, negociar um bocadinho, avançar com um pouco de estratégia.

O que não se pode é apelar para a mudança brusca, tentar imobilizar o outro, para garantir a nossa única vontade.

A mudança tem a sua graça. É dela que um bom casamento vive e se alimenta. Quando dá certo, costumamos chamá-la de renovação.

Mas também pode transformar-se numa desgraça. É quando o casamento se torna mau, nos envenena.

E voltamos à estaca zero, sendo que se impõe uma pergunta óbvia: O que contém menos risco: Escolher um parceiro parecido ou diferente de nós?

O risco está em escolher alguém, seja quem for. Mas é um daqueles riscos que vale a pena correr, assim como todos os dias escolhemos o risco de viver.

Assim, temos uma série de possibilidades a considerar.

O ideal seria escolher alguém, não pelo que é em relação a nós, mas pelo que é em relação a si mesmo. Teoricamente fica lindo.

Na prática é complicado.

Mas, o melhor é escolher alguém pelo que representa como pessoa e não como espelho de uma das partes.

Tendo em vista que, passados os primeiro meses de cegueira, é com a pessoa que vamos ficar, não com o espelho, parece-me uma estratégia bastante razoável.

Dentro de um conceito mais prático, prefiro um máximo de semelhanças nos pontos básicos e, no resto, o que a divindade quiser.

Os pontos básicos são aqueles sobre os quais não estamos dispostos a abdicar e sem os quais não conseguiríamos sequer nos reconhecer. São aqueles pontos que nos definem.

Mas uma coisa é inquestionável: seja qual for a escolha, não pode ser feita às custas da individualidade de nenhuma das partes.

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