29 maio 2007

A Perda de Consciência.

Quando cheguei à entrada reparei que desapareceram os velhos formalismos.

Se a apresentação fôr normal (sem que a roupa esteja rota ou rasgada, etc.) é possível entrar sem ter qualquer receio de que nos seja imposta uma formalidade de etiqueta.

Foi esta a primeira sensação de que algo tinha verdadeiramente mudado.

Num momento anterior tinha reparado em como havia uma enorme dificuldade em estacionar a viatura particular, para não falar de nenhuma paragem de autocarro de transporte colectivo público por perto ...


O que mais me impressionou no interior nem foram as máquinas automáticas, as roletas, os black-jacks´s, o Poker, a Banca Francesa, o Bacará ou o Ponto e a Banca, mas sim o "Arena Lounge", uma espécie de café giratório, repartido por 4 pisos dispostos em roda, enquadrado numa sala cheia de música "chill out".

Existe uma organização e distribuição de tarefas muito interessante e que podia ser objecto de uma maior atenção por parte das universidades que se dedicam a este tipo de negócio das bebidas, sumos, chás, licores, cafés, cocktail´s, etc..

Foi uma verdadeira lição de gestão observar cada uma das funções dos seus intervenientes: Existem 2 barman´s, 10 raparigas que se dedicam a servir e a limpar as mesas distribuídas por zonas e patamares, 2 gestoras de espaço que organizam e controlam as entradas e a afectação das cadeiras consoante os clientes que aguardam em cada uma das 6 entradas para este espaço único, 2 senhoras que cuidam da limpeza do chão, 3 seguranças em constante rotatividade ao longo dos 3 pisos que observam constantemente o ambiente e as pessoas que o criam, 4 disco jokeys (2 de cada lado, situados em lados opostos), e finalmente os clientes que não param.


No que respeita ao jogo, fiquei revoltado ao ver uma pessoa estoirar literalmente 5.000 euros e simultaneamente 2 maços de cigarros, com os nervos à flor da pele.

Existem pessoas para quem a vida é tudo ou nada.

E a aposta dá-lhes a sensação de estarem vivos ou mortos.

Se não apostam forte, as sensações obtidas são insignificantes.

O dinheiro que se aposta não vale nada, mas sim a sensação única de ganhar.

Assim, perde-se a noção de quanto custa a ganhar o dinheiro, desvaloriza-se o valor da aposta, concentra-se a atenção nos alvos que se esperam corresponder à chave correcta, despreza-se o jogo das probabilidades, não nos preocupa a saúde deteriorada por fumos de tabaco queimado que enchem a sala, não importa quem está ao lado a jogar, anseia-se que o empregado inicie a jogada, treme-se de medo que o tempo se esvaia, fuma-se para dentro e para fora como se estivéssemos a viajar fora daquele espaço, abstrairmo-nos dos sons que nos circundam, a sala torna-se mais pequena, encolhe, a cada lançamento de uma jogada, o coração acelera enquanto a jogada se mantém por terminar, a ilusão e a desilusão são a face da mesma moeda, esquece-se o amor, a família, o gato, a cadela, as paixões só são miragens, a vontade de ganhar é muita, a brincadeira de criança põe em causa o homem que faz a aposta, os soluços vêm e vão, o calor aperta, o cigarro desaparece num instante em cada bafo, os braço e as mãos são cúmplices na tremura do desespero escondido por cima da mesa de jogo, o tempo esse recurso mais valioso passa e não se valoriza, a esperança é a última a morrer, aqueles que nos amam e por quem somos amados não estão connosco, a guerra que se instala no interior dos nossos corpos tem múltiplas causas, não nos interessa saber se o governo de um país qualquer do globo se tornou revolucionário, a revolução joga-se e o revolucionário charmoso é aquele que nunca perde e dá sempre uma gorjeta de compensação ao empregado com as fichas mais pequenas, o estoirar da vida está para vir mas sabemos que ainda não é agora o momento quando se joga a vida nas nossas mãos, vive-se aquele momento porque enquanto se joga nada nos pode afectar ainda que estejamos perdidos na vida, o dinheiro flui em forma de chapas plásticas de várias cores distintivas de cada um dos seus proprietários, joga-se rápido para não se pensar em mazelas que a perda provoca e o empregado incita à aposta, a troca de fichas à rápida e quando acabam aparece sempre o maço de notas grandes guardado no bolso para aumentar o espólio plástico, a desistência de uma mesa é movida pela crença de uma mau azar associado àquela combinação de espaço contíguo, quere-se partir para outra mesa onde dê sorte, o empregado ri da "esmola" benevolente do seu companheiro de trincheira, ouvem-se ocasionalmente gritos de vitória e cá dentro nasce o ciúme e a inveja, os invejosos da cobiça material rodeiam os perdedores e sofrem em cada uma das suas perdas, atribui-se a loucura aos perdedores, não se quer saber ao certo o que leva uma pessoa a apostar tanto, em tão pouco tempo, de uma forma tão teimosa a insistir em chaves que pecam pela sorte, o azar espreita, a casa ganha sempre porque se isso não acontecesse não haveria Casino em nenhum lugar do mundo, o apostador sabe perfeitamente deste facto e ilude-se que pode vencer o Golias, o empregado torna-se apenas num adereço, esquecemo-nos que existem pessoas que sobrevivem com o ordenado mínimo, o mínimo de reinserção social, a pensão mínima, o subsídio de sobrevivência, não se quer saber da fome no Mundo porque a sede de ganhar é egoísta e sabe tão bem quando se consegue beber de um trago, não há bebidas a bordo da jogada, quem quer beber arrisca-se a perder a maré de sorte que tarda sempre a chegar, adiam-se decisões de partida da mesa com o pretexto de que "É só mais uma!" ou "Desta vez é que vai ser!" ou "É agora, não falha!", os asiáticos começam a ficar nervosos e perdem a noção do país em que se encontram, a linguagem do jogo é universal e não precisa de ser falada, a discussão resume-se ao silêncio de cada partida e respeita-se a distribuição dos dividendos, ninguém ousa a fazer batota sob o olhar atento de vigilantes que se socorrem de máquinas de filmar com uns zoom´s que incidem sobre as mesas, existe o receio de que nos descubram quando somos bons jogadores, a noite ainda é uma criança, o cansaço não se apodera do corpo, o corpo é um mero instrumento para se atingir a felicidade, e quem diz que ganhar torna-nos felizes não pensa que é necessário investir o que se ganha para se ser mais feliz, perdemos a noção do que é a felicidade porque é algo que tem que ser gradualmente alimentado como uma bola de neve que se quer do tamanho de um Planeta mas não passa de um grão de areia da praia, solta-se suspiros, limpa-se a testa, passam excertos da nossa vida muito rapidamente quando começamos a fixar pontos na mesa do jogo, os rivais não podem ganhar, queremos levar todo o dinheiro, perguntamo-nos se não valeria a pena estarmos noutro local, que o dia se transformasse em noite permanente porque o jogo só é aliciante com a cobertura da lua, os bolsos começam a ficar vazios assim como a nossa alma, desespera-se a pensar sobre aquilo que se irá dizer quando se regressar a casa, pensa-se no que foi dito na última sessão terapêutica da Associação dos Jogadores Compulsivos Anónimos, rebenta-se com a escala e renovam-se os ímpetos nas Caixas, a solução é o crédito quando tudo está perdido não se fazendo a mínima ideia de que é nesse preciso momento que se começa a perder o juízo, a idade é avançada e não existem descendentes para trás por isso pouco importa se o dinheiro fica do lado da mesa, ou se joga ou não se joga e se se jogar ou ganha-se, perde-se ou fica-se na mesma mas para ficar tudo na mesma não se jogava e por isso arrisca-se, quem não arrisca não ... mama, que saudades que se tem de um tempo em que não era preciso jogar para se amar tanto a vida e os outros, aquilo que tudo existe à volta da mesa é artificial, as empregadas substituem os empregados, espera-se que as empregadas dêem sorte aquilo que já não tem remédio, a idade da juventude nos empregados é impressionante e o pouco que dizem é esperado, nada se aprende com a jogada mas o dinheiro que pode daí advir é sempre uma prenda que pode transformar a vida de uma pessoa, quando se ganha não se sabe onde parar, estou a ganhar muito mas devo ir já para a Caixa e levantar o dinheiro ou continuo por aqui, não me importa que o cinzeiro esteja cheio, escolho outro até que encha todos os restantes porque há-de vir a senhora das limpezas assim como a sorte chegará sem que eu a peça, mas a necessidade é tanta que o dinheiro passa a controlar os nossos desejos, o jogo é terrível dado que nos desgasta intensamente e destrói-nos a sensibilidade de uma avaliação racional, o respeito por respirar ar puro é algo esquecido, fuma-se para aliviar a dor como para destruir as pulsações ofegantes do nosso coração, as veias dilatam-se, a pele torna-se seca, os lábios precisam de um tratamento e ... eu lembrei-me que preciso agora do teu beijo e quero estar contigo em casa.

Prefiro azar ao jogo e sorte no amor.


Tens alguma adversidade ao risco ou medo de perderes ou de te perderes?

http://www.casinolisboa.pt/clx.html

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