31 maio 2007

Relembrar o caso Rui Pedro - Desaparecido desde 1998.

O caso do Rui Pedro foi há 9 anos...

Para que não esqueças, aqui vai a história toda ...

Filomena Teixeira mantém o quarto do filho Rui Pedro tal e qual ele o deixou há nove anos: o poster de Sandra Bullock colado atrás da porta e a televisão e a consola de jogos no mesmo lugar.

Os únicos elementos novos são imagens de santos alumiadas a lamparinas e um crucifixo sobre a Bíblia aberta no Cântico da Esperança, que Filomena repete como oração várias vezes ao dia.

Rui Pedro desapareceu de perto de casa, em Lousada.

Tinha 11 anos.

Naquela tarde de 4 de Março de 1998, uma quarta-feira, o menino saiu das aulas: Passou pela escola de condução do avô, onde a mãe trabalhava, e pediu-lhe autorização para dar uma volta com Afonso Dias, uma estranha criatura de Lousada que, apesar dos 21 anos, nada fazia e era habitual companheiro de brincadeira de rapazes com metade da idade.

Filomena não deixou o filho ir com Afonso: Lembrou-lhe que às cinco da tarde tinha que ir para a explicação.

Foi a última vez que o viu.

Ao final da tarde, apareceu-lhe o professor: Rui Pedro não tinha ido à explicação.

Ele nunca faltava.

Filomena sentiu que alguma coisa de ruim tinha acontecido.

Nessa mesma noite, o povo de Lousada e patrulhas da GNR com cães-pisteiros vasculham todos os cantos da vila.

Sem êxito.

Os cães farejavam o rasto de Rui Pedro desde o terreno baldio nas traseiras da escola de condução, onde fora encontrada a bicicleta, até uma estrada de terra batida, e aí perdiam-lhe o cheiro.

Nos dias seguintes, a mesma caminhada, agora sob as ordens de uma brigada da Polícia Judiciária.

Nada.

Na investigação de desaparecimento, todos os minutos contam.

É obrigatório reconstituir trajectos, hábitos, rotinas e ouvir amigos e familiares, quanto mais depressa melhor.

Muito provavelmente, os investigadores da PJ chegaram demasiado tarde a Lousada e o Afonso, com quem Rui Pedro queria ir dar uma volta, teria qualquer coisa de útil para contar.

Nas primeiras horas que seguiram ao desaparecimento, André, um primo de Pedro com a mesma idade, tinha uma informação: o Afonso tinha convidado os dois para irem ver prostitutas.

André não foi porque a mãe o obrigou a ficar em casa, mas estava convencido de que o primo tinha ido com Afonso: Rui podia muito bem ter pensado que voltava a tempo da explicação e os pais nem chegavam a saber.

Ainda nessa noite, no posto da GNR de Lousada, Afonso Dias negou que tivesse estado com Rui Pedro.

Mas uma vizinha do menino jurou que o viu a falar com Afonso.

O avô materno de Rui (que entretanto já faleceu), proprietário da escola de condução de Lousada, ouviu de Afonso um comentário que o deixou aterrado: se quisessem encontrar o rapaz, o que deviam fazer era fechar as fronteiras - disse-lhe, ainda no posto da GNR.

Afonso Dias vivia de fazer favores e recados por Lousada a troco do lanche ou de umas tantas moedas.

Volta e meia, passava pela escola de condução para mandar faxes e cartas para amigos holandeses – com quem travara conhecimento nas célebres provas auto-cross que se disputavam em Lousada e juntava pilotos estrangeiros.

Ainda hoje, Filomena Teixeira acredita que Afonso sabe muito mais do que disse.

Poucos dias após o desaparecimento, uma mulher nova disse que viu Rui Pedro numa casa de passe do Porto e encaminhou para lá os investigadores da Polícia Judiciária.

A PJ descobriu que se tratava de um lugar de passagem: as raparigas não ficavam lá mais do que dois ou três dias, até serem enviadas para outros locais de prostituição.

A proprietária disse que a criança de quem falavam era, afinal, o seu sobrinho de seis anos.

Mas a testemunha, sem a mais pequena hesitação, garantiu que não se tratava do mesmo rapaz.

Ainda assim, a Polícia Judiciária também não seguiu esta pista até ao fim.

Em Setembro, seis meses depois de Rui Pedro ter desaparecido, o coração de Filomena disparou ao folhear a revista “Caras”.

Numa foto de Nuno Rogeiro e da mulher, na Eurodisney, nos arredores de Paris, lá estava, atrás do casal, um homem na companhia de uma criança que, se não era o Rui Pedro, era muito parecida.

A mãe garante que é o filho.

Filomena reconstituiu a cara desse homem misterioso.

As investigações levaram a um segurança de uma discoteca do Porto.

Mas esta pista também acabou por ser abandonada pela Polícia Judiciária.

Rui Pedro terá hoje vinte anos.

Afonso Dias, que não trabalhava, comprou um carro pouco tempo depois do desaparecimento de Rui Pedro, acusa Filomena Teixeira.

Afonso fez-se camionista de longo curso.

Casou-se e foi viver para Freamunde.

Filomena Teixeira, a mãe de Rui Pedro, guarda na secretária do filho pastas com todas as informações que recolheu, e não acredita que a Polícia Judiciária tenha seguido todas as pistas.

Filomena colabora com organizações estrangeiras que se dedicam a descobrir crianças presas por redes pedófilas.

Segundo a PJ, os processos de menores desaparecidos não são arquivados e continuam a ser investigados.

Quatro anos depois do desaparecimento de Rui Pedro, no início de 2002, os pais de Rui Pedro receberam a visita da Polícia Judiciária.

Os investigadores levaram-lhes uma foto para eles identificarem.

A imagem mostra uma criança amordaçada e amarrada, atordoada.

Faz parte de um lote de sessenta mil imagens apreendidas pela polícia holandesa contra uma rede pedófila com ramificações na Polónia, Suécia, Ucrânia, Roménia e Portugal.

Filomena Teixeira ficou com a certeza de que o rapaz da foto é o Rui Pedro, pelas orelhas, os ombros, as sobrancelhas, os mamilos, o jeito do corpo.

Pelas suas contas, a foto terá sido tirada uns seis meses depois do desaparecimento, não mais.

Uma mãe não se engana no momento de reconhecer o filho.

in Correio da Manhã,15 / 04 / 2007, Pessoas Desaparecidas.
Nota final: Todos nós quando éramos crianças podíamos ter sido um Rui Pedro ...

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