18 maio 2007

O sexo forte segundo uma mulher.

1. Habituámo-nos a pensar que esta coisa dos géneros não é uma mera divisão linguística e fisiológica. Que por detrás das palavras que designam o ser Homem ou Mulher está um outro império de sentidos. Que sobre a biologia que nos faz diferentes, a cultura inscreveu um sistema de hierarquias que não só nos tornou mais diferentes mas nos classificou em melhor e pior, em função disso mesmo: o género.

2. Habituámo-nos a pensar que ser Homem era melhor que ser Mulher. Séculos de história moeram e remoeram a ideia de que as mulheres eram enigmáticas, perigosas, com super Eus frágeis, cérebros de passarinho
e ideias limitadas e desconcertantes. Aos homens cabia
o público, a herança, a posse do nome, das terras, dos bens, dos filhos e das mulheres.
Os homens faziam a história, a política, as grandes e pequenas ideologias.
Os homens criavam e destruíam e eram os senhores incontestados de um certo modo de vida que percorreu gerações e gerações… até há 50 anos atrás.

3. Numa geração, tudo o que eram os grandes adquiridos de diversas civilizações que o mundo viu nascer, crescer e morrer, evaporou-se.
A força física dos homens tornou-se supérflua, ridícula mesmo. As suas artes de guerra, a agressividade treinada para o conflito, a luta e a valentia, transformaram-se em valores mais que decantes, nefastos e a banir.
A sua imprescindibilidade como reprodutores foi-se nas mãos das novas tecnologias.
O seu poder de chefe de família desagregou-se conjuntamente com as novas formas de família em que eram eles, sempre, os menos úteis e os mais acessórios.

4. Numa geração passou-se de um mundo centrado no poderio da masculinidade para a quase caricatura desses, outrora, atributos de grandiosidade.
As mulheres, além de manterem o controlo do mundo doméstico, tomaram de assalto o mundo público. Intrometeram-se na política, no trabalho, ganharam as letras e as artes. Descobriram o íntimo, o território dos afectos, mas também da sexualidade e da relação com o outro e, num ápice, puseram-no na ordem do dia e nuclear em todos os discursos.
As mulheres, num instante, de conquista ou distracção, afirmaram-se como seres completos e polivalentes capazes de ir a todas e bem.

5. Posto tudo isto, que é no essencial uma visão trans-histórica das conquistas e das perdas de cada um dos géneros, chegamos ao momento actual.
Aqui, as mulheres continuam insatisfeitas com os seus parceiros.
Acredito, aliás, que cada vez mais insatisfeitas porque já não lhes reconhecem um estatuto quase divino e lidam mal com as fragilidades, inconsistências e dúvidas que as pessoas, só porque o são, costumam ter.
Para os homens acho que se abre um novo mundo, que a maioria nem sequer imagina.
Tendo ainda como referentes os homens do passado, patinham desconfortáveis e meio perdidos, num tempo em que ainda não esclareceu qual é o seu papel.

6. Já não são importantes como guerreiros, procriadores, chefes de família.
São trocáveis, sem sanção social, como amantes, maridos e até pais.
Dominam menos bem o mundo dos afectos, privados
e públicos. Equiparam-se sem nenhuma vantagem especial
a qualquer força de trabalho feminina.
Entre nós, e nas novas gerações, são muito menos cultos e letrados que as mulheres, e muito mais a-ssociais e delinquentes.
Acresce a tudo isto que vão morrendo em todas as idades sem justificação nem glória.
Se isto não destrói o mito ancestral do homem como o sexo forte e não prefigura o estado de crise, não sei o que o fará.

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