09 maio 2007

Andar nas nuvens ...



Sinto-me bem lá no alto.

Tenho a sensação de estar noutra dimensão.

Lá mesmo em cima das nuvens a viagem faz-nos pensar na vida.

A vida dá voltas e voltas e nós insistimos em idas e voltas não saindo do mesmo ponto.

Tive a sensação de poder escolher qualquer destino, ir para onde me apetecer, sem rumo, sem horas marcadas, perder a noção do tempo, tão entorpecido que estava com a paisagem que avistava do lugar onde me encontrava dentro do avião, sabendo no entanto que um dia regressaria sempre à minha origem, onde se encontra a minha metade do coração.

Se me desviasse do caminho, e me perdesse, perdoavas-me e recebias-me nos teus braço, ainda que voltasse diferente?

Mas estar no céu é ter uma das melhores vistas em termos de escritório móvel.

As nuvens cerradas formam um mar extenso de um branco e cinzento.

Esquecemo-nos da Terra e de tudo de mau que lá existe.

É um momento íntimo, intransmissível, de admiração e espanto quando temos a possibilidade de contemplar a progressão calma que se faz no espaço aéreo.

Aqui é uma das situações em que nos sentimos pequenos, mas a magnitude da vista torna-nos importantes pelo facto de sermos privilegiados por aquela combinação única de espaço, lugar e tempo.

Se nos concentramos num ponto algures no céu surpreendemo-nos com mais 1.000 curiosidades que este lentamente nos dá.

A viagem de regresso é mais nostálgica porque trazemos mais algo dentro de nós de todos os sítios por onde andámos.

As viagens têm esta particularidade: Transformam-nos com enriquecimentos culturais, sociais, físicos, psicológicos, sociológicos, etc..

A visão de cada viagem lá em cima é sempre única porque o céu encarrega-se todos os dias de eliminar o constante, o que é tédio para a nossa vista, torna sempre tudo diferente e nada se identifica com aquilo que habitualmente cá em baixo se vive diariamente.

Se pudesse encontrava-me sempre em viagem a percorrer diferentes países, atravessar as mais diferentes fronteiras, ultrapassar barreiras, transpôr cidades, criar intimidades, descobrir o que existe de melhor em qualquer parte do mundo, descobrir-me através das outras pessoas, ir à deriva, para depois voltar sempre aos teus braços.

O homem que pertence ao coração de uma mulher tem sempre saudades de estar com ela independentemente do lugar onde esteja no globo.

Quando se encontra afastado tende a distrair a sua atenção na procura de mais saber para quando volta poder mais ser.

Como é que é possível existirem tantas mulheres no mundo e um homem ter a sorte de ser escolhido para viver toda uma vida com uma delas?

Se a morte é o que justifica a vida, qual é caminho que devemos percorrer para não nos deixarmos morrer enquanto estamos vivos?

Se um dia não regressar, prometes-me que vais ter comigo e tentas me encontrar quando estiveres a percorrer a mesma viagem final?

Só não gostava que a viagem tivesse um fim, porque o bom da vida não é alcançar o destino, mas sim desfrutar do caminho para lá se chegar, ainda que não se saiba quando é que lá vamos chegar.

Esse é o grande desafio que poucas pessoas se apercebem porque vivem obcecadas sempre para alcançar um determinado fim.

Quando volto de um viagem venho sempre mais preenchido, mais cheio de vida, com uma frescura de espírito tolerante que é diferente daquela em que tudo começou e é por isso que em cada viagem peço sempre ao destino que me leve de volta.

Na viagem, não há um extremo que seja mais importante do que o outro, ambos se completam e ter consciência disso é perceber que o viajante não deve enaltecer a ida em desfavorecimento da volta, ou vice-versa, porque o mais importante ainda será o prazer com que se disfruta cada momento.

Gostava que a minha existência e de todos aqueles que amo perdurasse para além de qualquer viagem que poderíamos fazer neste período tão curto das vidas que cada um de nós se conformou a aceitar em termos da sua visão pessoal.

O viajante, por vezes, sente-se como um espião em território inimigo ou um emigrante despreocupado: escuta e observa tudo com atenção aquilo que o rodeia, apreende rapidamente as diferenças de um país que não lhe é tão familiar, adapta-se à realidade, deixa-se moldar um pouco à imagem daqueles que o acolhem, veste a sua camuflagem estrangeira, por vezes invísivel, mas não perde a sua identidade e mantem sempre as suas raízes, razão pela qual o regresso é um facto consumado.

Aquele que viaja não tem nacionalidade porque o mundo é a sua casa e ele move-se para as divisões da casa consoante as suas necessidades (comer, dormir, descansar, ler, ...).

Andar nas nuvens é isso mesmo: Escolher invariavelmente um lugar, num determinado período no tempo, para deixarmos de parte todas as futilidades e as coisas de menor importância para nos dedicarmos a viver de uma maneira diferente contribuindo para a nossa constante adaptação a qualquer parte do globo.

No amor deverá ser igual: Apostarmos no que é essencial e sermos verdadeiros com quem queremos estar, termos a certeza de onde pretendemos estar e que caminhos devemos mutuamente escolher durante a viagem, ainda que a outra parte nos leve a viajar por um mundo diferente.

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