21 setembro 2007

Travar para pensar.

Há uns meses optei por ir de Copenhaga a Estocolmo de comboio.

Comprado o bilhete, dei comigo num comboio que só se diferenciava dos nossos Alfa por ser menos luxuoso e dotado de menos serviços de apoio aos passageiros.

A viagem, através de florestas geladas e planícies brancas a perder de vista, demorou cerca de cinco horas.

Não fora ser crítico do projecto TGV e conhecer a realidade económica e social desses países, daria comigo a pensar que os nórdicos, emblemas únicos dos superavites orçamentais, seriam mesmo uns tontos.

Se não os conhecesse bem perguntaria onde gastam eles os abundantes recursos resultantes da substantiva criação de riqueza.

A resposta está na excelência das suas escolas, na qualidade do seu Ensino Superior, nos seus museus e escolas de arte, nas creches e jardins-de-infância em cada esquina, nas políticas pró-activas de apoio à terceira idade.

Percebe-se bem porque não construíram estádios de futebol desnecessários, porque não constroem aeroportos em cima de pântanos, nem optam por ter comboios supersónicos que só agradam a meia dúzia de multinacionais.

O TGV é um transporte adaptado a países de dimensão continental, extensos, onde o comboio rápido é, numa perspectiva de tempo de viagem/custo por passageiro, competitivo com o transporte aéreo.

É por isso, para além da já referida pressão de certos grupos que fornecem essas tecnologias, que existe TGV em França ou Espanha (com pequenas extensões a países vizinhos).

É por razões de sensatez que não o encontramos na Noruega, na Suécia, na Holanda e em muitos outros países ricos.

Tirar 20 ou 30 minutos ao Lisboa-Porto à custa de um investimento de cerca de 7,5 mil milhões de euros não trará qualquer benefício à economia do País.

Para além de que, dado hoje ser um projecto praticamente não financiado pela União Europeia, ser um presente envenenado para várias gerações de portugueses que, com mais ou menos engenharia financeira, o vão ter de pagar.

Com 7,5 mil milhões de euros podem construir-se mil escolas Básicas e Secundárias de primeiríssimo mundo que substituam as mais de cinco mil obsoletas e subdimensionadas existentes (a 2,5 milhões de euros cada uma), mais mil creches inexistentes (a 1 milhão de euros cada uma), mais mil centros de dia para os nossos idosos (a 1 milhão de euros cada um).

Ainda sobrariam cerca de 3,5 mil milhões de euros para aplicar em muitas outras carências, como a urgente reabilitação de toda a degradada rede viária secundária.

Reflectir faria bem a muita gente que eu conheço ...

Anónimo

2 comentários:

  1. faltam referir os hospitais, que são bem precisos... penso que os politicos do nosso pais deviam ser mandados abater numa linha de fuzilamento. bom, ou ao menos destituidos dos seus cargos!

    ResponderEliminar
  2. Olá, boa noite, Paula!

    Alegra-me ouvir palavras sabiamente ponderadas de alguém ("someone") que como eu sabe provavelmente muito bem o que é viver, por exemplo, sem médico de família, não ter um dentista no Serviço Nacional de Saúde para fazer uma prótese dentária ou não ter um local de confiança e barato para um dia mais tarde quando os problemas tocarem à nos,sa porta conseguirmos a possibilidade de tratarmos da nossa saúde ou da saúde dos nossos familiares (pais e avós) num lar condigno.

    Peço imenso desculpa por dizer a seguinte ideia disparatada mas lembrei-me, assim de repente, de colocar a questão sobre a razão pela qual não existem lares para a terceira idade com um serviço semelhante de um hotel de 8 estrelas para toda a gente? É que eu prefiro ter as melhores condições de vida no futuro nem que fosse necessário reduzir o Parlamento a apenas 5 políticos que trouxessem verdadeiras estrelas de esperança para a vida de todos nós ...

    Devido a estes factos nasce em cada um de nós a total desconsideração por um qualquer político neste mundo que se recuse a resolver os problemas de quem o elegeu, como eu e a Paula.

    É com enorme satisfação que recebi o seu comentário ao meu post porque só assim tenho a certeza que , afinal, existem pessoas que sabem reflectir sobre os verdadeiros problemas que interessa discutir e resolver, já que as centenas de políticos que proliferam cada vez mais em número não se prestam a tal ...

    Obrigado e um beijinho,

    O autor do blog

    ResponderEliminar

Agradeço os seus comentários / Thank you for your comments.

Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.