Portugal no Verão é um arraial de liberdade sonhada.
Para despir o corpo, celebrar o sol, a música, o sexo, as drogas …
Só a causa política é já uma miragem.”
in página 11 do livro “O Tempo das Cerejas”, o terceiro romance de Claudia Galhós.
Se te fartas facilmente do que vês num determinado país ou és demasiado exigente na vida, inventa outro mundo ... por exemplo, entra no “Second Life” onde aí podes escolher uma vida totalmente diferente daquela que tens na realidade, quase como um escape e uma oportunidade para conhecer outras pessoas.
Foi a lição possível de obter dada indirectamente pela autora do livro e do seguinte blog (sem conhecimento desta):
http://tempocerejas.blogspot.com/
Histórias banais de amor:
- A little Love story:
http://www.youtube.com/watch?v=ciSMKoovs_8
- Sims love:
http://www.youtube.com/watch?v=8AHBf8pyyGI
http://expresso.clix.pt/gen.pl?p=stories&op=view&fokey=ex.stories/95723
O Tempo das Cerejas Escritora lança livro em Second Life Hoje ao cair da tarde, a escritora Claudia Galhós lança o seu terceiro livro. Em Second Life. Sobre Second Life. Trata-se da primeira obra nacional lançada num mundo virtual. O Expresso conversou com a autora numa entrevista exclusiva, em Bora Bora.
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Depois de "Sensualistas" e "Conto de Verão", a jornalista e escritora Claudia Galhós, colaboradora do Expresso, prepara o lançamento de "O Tempo das Cerejas", um romance que é hoje apresentado em Second Life. Trata-se do primeiro livro português a ser apresentado naquele mundo virtual, sinalizando um passo pioneiro que muito provavelmente outros seguirão. O Second Life tornou-se uma moda – em poucos meses duplicou de quatro para mais de oito milhões de habitantes – e toda a gente quer dizer que está lá. No caso de Claudia Galhós é diferente. A escritora já lá está há mais tempo e o seu livro tem episódios vividos dentro de Second Life. Uma ficção vivida dentro de uma ficção, dupla e boa razão para uma conversa com a jornalista que muitos conhecem desde os tempos do 'Blitz', e que hoje assina no Expresso textos sobre teatro, dança e artes plásticas. Conversar sobre um livro que trata de um mundo virtual a par com a realidade obriga a ter a agilidade de saltar entre um e outro mundo, pelo que um telefonema mais tarde estávamos a caminho de Bora Bora (virtual, claro) a ilha onde hoje se realiza, pelas 20.30, a apresentação do livro de Claudia Galhós. Aliás Jonsy Lilliehook, o nome do avatar escolhido pela autora para viver em Second Life. De facto o segundo avatar. E é por aí que a nossa conversa começa. Uma gata nuaA autora tinha criado uma primeira personagem, com o perfil de uma gata, porque gosta de gatas, mas algures no percurso da felina criatura teve um acidente... e perdeu a roupa. Andava sempre nua... Os responsáveis da Linden Lab aconselharam Cláudia, então, a fazer uma espécie de tratamento, uma espécie de reprogramação do avatar, numa ilha especial dentro de Second Life. A verdade, conta a autora, é que nunca resultou, e que foi enviada para a Help Island, a ilha de acolhimento aos recém-chegados, onde “todos me insultavam por andar sem roupa. Foi uma experiência curiosa, senti-me muito exposta e isso colocou-me várias questões...” A experiência começou em Agosto de 2006, quando, “eu li sobre a Second Life, acho que na Newsweek ou na Time... e fiquei muito interessada, pensei que tinha descoberto uma grande coisa que não tinha chegado cá. Imediatamente criei um avatar, o tal primeiro, e comecei a explorar a ilha, muito intuitivamente, como quem experimenta a vida no dia-a-dia. Para a escritora tratou-se de “descobrir novas paisagens, novos mundos, interagir com outras pessoas, procurar novas possibilidades de existir.” Ao mesmo tempo iniciava a escrita do seu terceiro livro, "O Tempo das Cerejas". Recorda que “comecei a escrever o livro em Setembro. A história começa realmente no festival de Vilar de Mouros, com uma adolescente de 16 anos, de Viana do Castelo. Como não planeio nada antecipadamente, o livro foi-se construindo, foram aparecendo personagens, e, uns capítulos à frente, havia uma personagem na Second Life.” Livro como passaporteEsta integração do universo virtual num livro nem sequer é uma novidade na escrita de Claudia Galhós. Já na sua primeira obra, "Sensualistas", a autora explorava a relação das pessoas através das ferramentas então disponíveis na Internet, o chat, de que SL é, se quisermos, uma extensão tridimensional com novas possibilidades. O livro "O Tempo das Cerejas" diz Claudia Galhós centra-se sobre “seis personagens, três homens e três mulheres, de gerações diferentes, nacionalidades, mas que têm em comum o facto de estarem perdidos e, de algum modo, sentirem a necessidade de se escapar... de fuga. São diferentes as suas histórias, e estão em diferentes cidades, Paris, Roma, Lisboa, Lecce, Nova Iorque, Viana do Castelo... há a casa, a intimidade, a cidade, o bairro, o país, Portugal na Europa, a questão da identidade, o reconhecer o valor do país...” No caminho para aqui, diz-me Claudia Galhós – uma metáfora, curiosa, ela sentou-se diante do computador e entrou num outro mundo – “estava a pensar na grande ironia que tudo isto é. O livro fala de proximidade e distância, de intimidade, de morrermos um pouco para voltar a nascer, é isso que significa o tempo das cerejas. E eu vou até à realidade virtual, mas as pessoas que não a conheçam e que leiam o livro vão poder entrar nela, viajar até ela, através de um artefacto muito tradicional, que é o livro, e nada tecnológico... não é lindo?” O espelho e o armárioSaltar entre um e outro mundo, escrever ficção, absorver as mudanças de um mundo que acelera e passa por nós se não o soubermos acompanhar, fazem da escritora uma observadora atenta de tudo o que a rodeia. Diz ter começado a pensar que “a realidade virtual e a Second Life são o paradigma do espelho da Alice ou do armário de Narnia do século XXI.” Por isso mesmo Second Life acabou por entrar neste terceiro livro. E sem revelar o final da história, Claudia Galhós sempre diz que “se existe uma espécie de herói no livro, é a família, num sentido lato, na utopia de que podemos salvar o mundo se nos juntarmos numa comunidade com fortes laços afectivos.” Algo para que SL pode contribuir, acredita, porque não se trata de um jogo, “mas de uma extensão da vida, com tudo o que de bom e mau isso tem”. Ficcionista, a escritora sente-se como peixe na água em Second Life. Acha maravilhosa a experiência e recorda que “ nos meus dois outros livros eu tinha jardins encantados, lugares de fábula fora da realidade e agora não preciso inventar. É uma grande e deliciosa ironia. Porque a descrição da fábula, que é virtual, é real, porque corresponde à recriação de um mundo que existe mas que, sendo virtual, é real na sua existência virtual. Acho que aqui há um espaço de exploração da criatividade e para olharmos para nós próprios na relação com os outros, mas o que é interessante é a forma como depois tudo se cruza, os fluxos, da realidade para o virtual e do virtual para a realidade...” Imaginação e computadorOs autores de literatura têm, na opinião da escritora, a ganhar com a experiência de mundos como SL. Na sua opinião “é como tudo, é uma possibilidade como muitas outras, eu falo no livro muito sobre quem somos e sobre o facto de quem somos ser construído a partir da relação com os outros. E quem são os outros? São as pessoas com quem nos relacionamos, os livros que lemos, os países que visitamos, os músicos que gostamos, os pensadores que nos influenciam, o mundo todo ele nos faz ser quem somos, e a SL é apenas parte desse mundo, não acho que seja mais ou menos importante do que qualquer uma das outras coisas que referi.” É de emoções e da capacidade de sonhar que se trata quando fala de SL. Recorda que “houve um dia que fui a uma ilha, mergulhei por uma floresta encantada dentro, e fui dar a uma parede de uma cascata com brilhos e reflexos de cores inimagináveis e um banquinho em frente. Sentei-me no banco, estava lá um tipo e fiquei uma hora a conversar com ele e a olhar para a cascata. A ironia é que estava maravilhada com tudo o que aquela paisagem apelava e sugeria aos sentidos, mas claro, estava sentada ao computador...” Tal como nós dois durante a entrevista, na beira-mar, entre palmeiras verdes e o azul de céu cortado pelo anil do mar. O som das ondas é um mantra em fundo de conversa e Claudia Galhós recorda que no seu livro tem uma canção popular que diz: o mar enrola na areia, ninguém sabe o que ele diz, bate na areia e desmaia, porque se sente feliz. Aposta editorialBora Bora, a ilha onde nos encontramos para a entrevista, é um dos lugares preferidos de Claudia Galhós. Parte da história do seu livro tem lugar ali. A autora recorda como descobriu a ilha “por puro acaso”. Quando entrou em SL decidiu saltar de ilha (cada espaço dentro do universo é uma ilha quadrada) um pouco à aventura, e acabou por chegar a uma Bora Bora (Bora Bora Isles) cheia de surfistas virtuais. “Quando cheguei havia um casal sentado no areal, à beira-mar, a beber bebidas coloridas, com umas fadinhas em redor, como a fada Sininho do Peter Pan. Fiquei encantada”. Um pulo mais e descobriu o conjunto de ilhas onde hoje apresenta o livro. A Oficina do Livro, editora de Claudia Galhós, está de facto empenhada neste lançamento, que representa um arranque de uma associação mais forte com o mundo virtual. António Lobato Faria, responsável da editora, disse ao Expresso que este lançamento faz todo o sentido porque a editora está a preparar outras iniciativas em SL, dado ser política da Oficina do Livro acompanhar as dinâmicas do mercado, aproveitando os novos canais de divulgação que a tecnologia coloca ao seu alcance.” Em Bora Bora o sol desce no horizonte, e o mundo real chama-nos de volta. Despedimo-nos, não sem antes ficar assente um café, com sabor e cheiro, em qualquer lugar físico, porque como diz Claudia Galhós, “eu adoro a realidade de carne e osso e olhos nos olhos”. Mesmo quando escreve histórias que sucedem em Second Life. |
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