19 julho 2007

Eleições parvas ... há-as em todo o lado ...

As eleições são muito dadas a percentagens, mas não há nada como os números redondos.

E os números redondos são estes: nove em cada dez lisboetas não votaram no vencedor.

Tudo bem somadinho, o alegado grande vencedor da noite obteve cerca de 60.000 votos.

Já vi mais gente no Estádio da Luz durante um Benfica-Gil Vicente.

Eleições em que todos os partidos dizem que ganham não é novidade.

Mas eleições em que todos os partidos efectivamente perderam nunca antes se tinha visto.

Repara:

Perdeu o Partido X. É verdade que foi o partido mais votado, mas classificar de vitória os seus anorécticos 29,5% só mesmo por piada. O vencedor teve menos votos do que o antecessor, e isso é descer muito baixo. Aliás, a máquina do partido acreditou tanto nos seus militantes que encheu a sede de campanha com camionetas do Norte. Os jornalistas tentavam falar com os incontornáveis populares e só encontravam gente de Cabeceiras de Casto. Eu até ouvi uma velhinha confessar que não fazia a menor ideia porque estava na capital numa noite de domingo. 60 e tal por cento de abstenção é preocupante, com certeza. Mas não tão preocupante quanto convocar militantes do Norte para abanar bandeirinhas na capital.

Perdeu o Partido Y e o Partido Z. Ser batido por um só indivíduo é mais difícil do que eu ganhar à bola ao craque mundial n.º 1 do futebol - mas o cabeça branca conseguiu. O cabeça branca tem ar de ser um homem honesto, mas é tão eloquente como uma estátua da Ilha de Páscoa. Cada vez que o apanhei na televisão a fazer campanha ouvi sempre o mesmo: “Votar no Presidente é trazer o Governo para dentro da Câmara.” Isso até o meu papagaio aprende a dizer.

Perdeu o Partido W e o Partido V. Ambos caíram em número de votos e em percentagem. Um caso triste, sobretudo para o Zé Povinho, coitado, que estava tão convencido das suas virtudes. Infelizmente, não é possível gostar em simultâneo dele e de um Túnel do Visconde. E o Túnel do Visconde dá imenso jeito.

Até um caso perdido antigo perdeu. Teve menos votos do que aquele senhor que não gosta de imigrantes, embora se expresse pior do que um ucraniano. A nova onda democrática foi ultrapassada pela velha xenofobia. A partir do momento que se perde isto, só há uma coisa a fazer: colocar lençóis brancos em cima dos sofás, apagar as luzes e ir à procura de uma vida melhor.

Adeus, meu povo.

2 comentários:

  1. Como é que ninguém faz nada relativamente à cena de cabeceiras???

    Post muito pertinente: http://avenidacentral.blogspot.com/2007/07/abaixo-o-provincianismo-ii.html

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  2. Olá Jonas,

    Agradeço-lhe imenso o seu comentário.

    Em termos irónicos, se me é permitido dizê-lo: A cultura audiovisual nunca se deverá confundir a política.

    Quando tal acontece existirão cenas carambolescas.

    Haverá sempre lugar para pedir explicações ...

    Cumprimentos,

    O autor do blog

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