Hoje sinto-me com vocação em termos de niti para discursar sobre uma maneira prudente e sábia de se viver.
Niti é um modo prático que conduz ao prazer e ao gozo são do mundo, congregando, em si, elementos que conduzem ao emprego sábio e decidido das forças convergentes, à comunicação de ideias entre amigos e, sobretudo, ao uso digno da inteligência, obtendo-se um modo de se viver segura e proveitosamente.
Os ensinamentos previstos pela nitishastra feminina, tal como os provérbios populares ancestrais, pretendem transmitir a sabedoria antiga das mulheres inteligentes, de autoridade matriarcal indiscutível, funcionando como modelo de conduta e constituindo simultaneamente testemunhos importantes do carácter e comportamento humanos.
A sabedoria e a realidade cultural reflectidas em provérbios e/ou formulações proverbiais é muito importante como manifestação sumária de conhecimento da realidade.
O modo como se diz algo torna-se tão importante quanto aquilo que é dito.
Devido, entre outros factores, ao seu particular modo de transmissão (entre mulheres), o conhecimento feminino perpetua-se na memória colectiva de conversas, aparentemente banais, onde a sabedoria exprime a sua experiência de vida numa espécie de logaritmo sapiencial que é passado entre mulheres, na primeira pessoa, de modo a apresentar a conclusão tirada de numerosas e repetidas vivências, especialmente no campo das relações sentimentais que as mulheres têm com os homens.
As conversas secretas das mulheres servem para trocar experiências pessoais sobre a realidade vivida, a qual por vezes, transforma-se e condensa-se em provérbio que, por sua vez, volta para a realidade, iluminando-a e permitindo a sua leitura e interpretação por outras mulheres receptoras e abertas a tal conhecimento (Perhaps the quickest way to understand a women culture is to learn their needs).
A realidade tornada viva na linguagem feminina e veiculada por meio de conversas fechadas entre estas transmite uma visão que se tem da realidade, e constitui a fonte que propicia e condiciona a sua moral.
A função educativa invisível exercida pelas conversas femininas dá às mulheres um conhecimento muito mais vasto do que aquele que se pensa e que se espera que venham a obter no âmbito oficial da escola e da universidade, e exerce-se na interacção social informal entre as mulheres e pressupõe, antes e acima de tudo, um conhecimento maduro sobre o homem.
Torna-se imediatamente evidente que a tradição viva de conhecimentos populares femininos é a poderosa instância de educação moral das mulheres
Esta educação faz-se precisamente através da possibilidade de circunscrever, de configurar, e muitas das vezes da necessidade de simular uma situação pessoal, que passaria despercebida, se as conversas não chamassem a atenção para cada uma das mulheres que participam em tais conversas.
Especialmente concebidas para as mulheres, as oportunidades de terem uma conversa entre si valem a intuição contida na sugestiva acumulação semântica da palavra e do conhecimento que é divulgado, desta forma, proveniente de outras mulheres que, no passado, enfrentaram crises, angústias, ansiedades e problemas semelhantes e que perpetuam as soluções por meio de um discurso secreto.
As conversas femininas constituem um poderoso instrumento para a perpetuação do conhecimento de soluções apontadas por outras mulheres para as novas gerações de mulheres, e podem remeter para a posteridade uma série de preconceitos impostos pelos homens que foram engenhosamente ultrapassados pela competência e determinação de mulheres que marcaram o passado.
As várias alusões (sempre desdenhosas e depreciativas) à figura da mulher contidas no imaginário masculino são desprezadas nestas conversas femininas e, pelo contrário, nelas dá-se valor àquilo que umas e outras conseguem de extrair de bom da vida, ainda que uma infíma parte dessa sua experiência tenha a referência a alguns momentos compartilhados com os tais homens que, muitas das vezes, as arrasam e ferem-nas.
Há três coisas que só um louco se atreve a fazer e só um sábio as evita: servir ao ditador, contar segredos às mulheres e tomar veneno para experimentar.
As mulheres sabem que nem todos os homens desprezam o valor que elas dão às suas conversas e por isso a sua natureza é circunscrita ao universo feminino.
A fofoca encontra-se associada sempre à mulher e nunca se ouve dizer, por exemplo, que o homem é bisbilhoteiro. Este facto não constitui um problema para as mulheres. Antes, pelo contrário, as mulheres preferem que se mantenha na mente dos homens esta ideia, para assim aproveitarem determinadas ocasiões para promoverem situações e eventos que lhes permitam celebrar o gozo de uma boa conversa entre elas.
O destaque para esta característica das mulheres, visto como um defeito pelos homens, é um preconceito que irá ainda se supôr ser feminino, ainda nos próximos anos.
Quando se fala com um homem olha-se nos olhos, e com a mulher olha-se igualmente na boca, na expressão corporal que cada uma delas transmite em cada gesto, posição do corpo, inclinação da cabeça, e cabelos.
A mulher não é confiável porque sabe que pode trair outras mulheres devido ao conhecimento secreto que tem das outras, mas confia num homem que se sacrifica por ela.
As mulheres não merecem que se faça traição por elas e o homem deve fiar-se muito pouco nelas, apesar de ter que ser um dos seus principais propósitos de vida merecer a sua confiança, o que muitas das vezes pode ser entendido como contraditório.
Existe um provérbio árabe que nos diz que não se deve confiar na mulher, mesmo que ela chore. A falta de confiança da mulher, a sua vocação para as suas conversas tão particulares, o seu pouco merecimento de sacrifícios a realizar pelos homens, formam o perfil não de uma ou outra mulher, mas da própria mulher.
O amor é, por vezes, a ilusão de que uma mulher é diferente das outras, mas a verdade é que cada mulher encaixa-se num único perfil natural.
Dizem que a prata se prova no fogo, os amigos, na sua lealdade em dar e receber, a força do animal, na carga pesada que pode suportar, mas as mulheres, não há com que se possam provar.
A mulher, ao dispensar um homem ou ao ser traída por outro, sente imediatamente a necessidade de encontrar um outro amor, a não ser que se sinta diminuída pela idade, pela beleza de outras mulheres rivais, etc..
Contudo, as mulheres inteligentes, tal como antigamente os reis faziam com os seus vassalos e não se preocupando em os perderem, arranjavam logo outros, deixam os homens que não as amam, e logo encontram outros que substituíam o seu lugar.
Não é somente graças ao homem que a mulher existe e nunca pode ser considerada pobre, inútil ou desprezível aquela que não o tem.
Se existem coisas que são inúteis, como um rio que não tem água, ou uma terra que não é cultivada, a mulher que não tem um homem é apenas um facto porque quem perde é o tal homem que pode ser compatível com ela.
É natural que uma solteira zombe de uma mulher casada porque no fundo, ela própria não quer admitir que sente invejosa do que a outra é.
Existem muitas mulheres que devem ser denunciadas pelo seu comportamento: É aquela que se gaba de ser corajosa, a que luta mas não apresenta sinal de ferida ou expressa os seus sentimentos com, pelo menos, outras mulheres, a que finge saber a lei e se diz religiosa, mas é corpulenta de complexos na sua intimidade, a solteira que zomba da casada, e a que fala muito depois do que já está feito por outras.
A pior mulher é a inconveniente que se faz passar por um objecto moldado pela moda que, muitas vezes, não pode ser mantido.
Se é com tristeza que se assiste a uma pessoa com fome a comer uma sopa rala com muito caldo e pouca carne, triste é o que se casa com uma mulher rica e bonita sem poder sustentá-la porque como sabemos, muito provavelmente ela irá procurar outro, a não ser que o amor vença as dificuldades financeiras e de classe e os ilumine a ambos no caminho certo ... .
Nesse mesmo sentido, com mais humor, é interpretado o provérbio brasileiro: Malandro é o sapo que casa e leva a mulher para morar no brejo.
Todos os homens ricos, ou até aqueles que se iludem com tal estatuto, devem ter sempre presente que, embora sejam grandes, devem amar as mulheres e preservar as amizades, ainda que uma maior parte destas últimas sejam femininas, se bem que as mulheres não gostam do conceito de “amigas”.
Nota final: Nitishastra significa ciência ou trabalho sobre ética política ou moral.
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