O autor desconhecido espera contribuir assim para a consciencialização das pessoas do perigo que se avizinha para a democracia no mundo ou em certas partes deste.
O Ditador, a maioria das vezes, quando de noite regressa aos hotéis por onde ultimamente gosta muito de fazer casa, fica praticamente sozinho à frente do espelho, sem ninguém ao lado.
Único senhor a bordo tem mestres de água doce e uma inspiração depressiva e ao mesmo tempo obsessiva.
Não aprendeu ainda os males de ambição pessoal desmedida, mas percebeu que a indecisão pode ser fatal.
A ponto de, com zelo, se exceder: Prefere decidir mal, mas rapidamente, do que adiar para estudar. Aliás o estudo é resolvido com facilitismo e desenrascanço.
Colhe o desdém pelo seu Partido único naquele Estado.
Com os carrascos e com a sua própria intuição autoritária, compreendeu que se pode governar sem políticos.
Mas onde estão os políticos?
Aqueles que se conhecem, cujas ideias pesaram alguma coisa e que são responsáveis pelo seu passado?
Uns saneados, outros afastados.
Uns reformaram-se da política, outros foram encostados.
Uns foram promovidos ao céu, outros mudaram de profissão.
Uns foram viajar, outros ganhar dinheiro (menos, mas ainda suficiente para as extravagâncias).
Uns desapareceram sem deixar vestígios, outros estão empregados nas empresas que dependem do Governo daquele Estado.
Os que resistem, já não contam.
Os que restam na estrutura autoritária ensinam e escrevem, presidem sem poderes, emigram, estão a milhas de distância em representações diplomáticas e vão dizendo, já sem qualquer convicção que convença, que a democracia ainda existe, e os eternos desejados, exercem a sua profissão.
Os alinhados justificam tudo tal como os extremistas fanáticos de uma desordem política, e os que não alinham são apagados.
Fala-se de globalização para não se resolver os problemas nacionais.
Limitam-se os pensadores do regime ditador definitivamente às extensões territoriais quando existem ilhas e outros territórios além mar.
Os faladores fazem vida independente mas não têm a coragem de sair totalmente da esfera da Ditadura.
Os grandes autarcas da máquina ditatorial estão reduzidos à insignificância.
A sede do único partido do Ditador parece um jardim-escola sedado onde não se vê viva alma e consequentemente não se fala nem se critica.
Os sindicalistas quase não existem.
O actual pensamento do ditador resume-se a uma lengalenga pragmática, justificativa e repetitiva sobre a inevitabilidade do seu Governo na luta incessante contra um défice de números para os quais não se reflecte que a verdadeira causa são os valores que defendem aquelas pessoas que contribuem para a sua existência.
O ideário contemporâneo do ditador é mais silencioso do que a meditação budista.
O Ditador percebeu depressa que nunca o sentimento público esteve, como hoje, tão adverso e tão farto da política e dos políticos.
Sem hesitar, aproveitou-se e apanhou a onda.
É ele o único que tem direito ao prazer e ao imenso gozo de surfar as ondas que teimam em não avançar para além da beira mar.
Desengane-se quem pensa que as gafes dos Ministros que rodeiam diariamente o Ditador o incomodam.
Não são mais do que meras picadas de insectos.
As gafes entretêm a opinião, mobilizam a imprensa, distraem a oposição e ocupam os comentadores políticos de conversas vazias.
Mas nada de essencial está em causa e se muda, tal como as ondas não vão para além da areia da praia.
Os disparates de qualquer Ministro da Ditadura fazem rir toda a gente.
As tontices e a desprestigiação estatística são igualmente pura diversão e já ninguém ousa questionar sobre quais são os dados verdadeiros que estão em cima da mesa, na medida em que se sabe que o jogo já está viciado desde a origem.
E não se pense que a irrelevância da maior parte destes Ministros, que nada têm a dizer para além dos seus assuntos técnicos, perturba o Ditador.
É assim que ele os quer, como se fossem Directores-Gerais de uma qualquer Multinacional onde só se reúnem 1 ou 2 vezes por ano e para resolver coisas muito, mas mesmo muito sérias, e acabam por falar para onde é que podem ir no futuro quando vier outro Ditador.
Os factos da vida passada do Ditador quando são revelados incomodam-nos realmente e foi nesse momento que percebeu que as suas fragilidades podiam ser expostas e que nem tudo estava sob controlo.
Mas nada de semelhante se repetirá porque apodera-se rapidamente dos órgãos de comunicação e da propaganda de massas.
O estilo consolida-se e sem se aperceber fica autoritário, crispado, despótico, irritado, enervado, aliás tão típico de um Ditador.
Detesta ser contrariado.
Não admite perguntas que não estavam previstas.
Pretende saber, sobre as pessoas, o que há para saber.
Deseja ter tudo quanto vive sob controlo.
Tem os seus sermões preparados todos os dias.
Só ele faz política, ajudado por uma máquina poderosa de recolha de informações, de manipulação da imprensa, de engano e de encenação.
As pessoas têm a sensação de que o Ditador até lhes vigia os bolsos para saber quantas moedas sobraram para lhes aplicar um qualquer tipo de imposto.
Está presente nos novos bilhetes de identidade, nas tentativas de tutelar a imprensa livre, na teimosia descabelada dos seus “Yes” Ministros, na concentração das polícias sob sua ordem e nos processos que os Ministérios abrem contra os funcionários que se exprimem em privado ou mesmo em público.
O estilo está vivo, por inteiro, no ambiente que se vive, feito já de medo e apreensão.
A austeridade administrativa e orçamental ameaça a tranquilidade de cidadãos que sentem que a sua liberdade de expressão pode ser onerosa.
A imprensa sabe o que tem de pagar para aceder à informação.
As empresas conhecem as iras do Ditador e fazem as contas ao que têm de fazer para ter acesso aos fundos e às autorizações.
Sem partido que o incomode, sem ministros politicamente competentes e sem oposição à altura, o Ditador trata mas é de si.
Rodeado de adjuntos dispostos a tudo e com a benevolência de alguns interesses económicos, o Ditador é omnipresente na governação de tudo o que se mexa dentro do Estado e fora dele quando o alvo é emigrante ou imigrante.
Com uma maioria dócil, uma oposição desorientada e um rol de secretários de Estado zelosos, ocupa eficientemente, como nunca nas últimas décadas, a Administração Pública e os cargos dirigentes do Estado.
Nomeia e saneia a seu belo prazer.
Há quem diga que o vamos ter durante mais uns anos.
Será mesmo possível?
Pensando bem, este povo até tem tradições históricas muito recentes de que gosta de ser escorraçado, calado, perseguido, maltratado e por fim fuzilado silenciosamente.
Afinal o povo até pode gostar deste Ditador porque ao menos sempre traz paz e tranquilidade e segurança e … nas suas casas e à saudosa pátria restituída nos moldes como do antigamente.
Mas não é boa notícia.
É sinal da impotência da oposição, da crítica expressiva e livre, da imaginação fértil, enfim, da falta de tudo, incluindo aqui também o amor.
De incompetência da sociedade.
De fraqueza das organizações.
E da falta de carinho dos cidadãos pela liberdade.
É este o Ditador que aquele país tem.
E as pessoas, esses seres que o Ditador pensa poder manipular, dispôr, controlar e subjugar, esses … têm o que merecem, ou não?
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