27 agosto 2007

As mulheres sentem culpa! (Perspectiva de uma Psicóloga Terapeuta Brasileira).

A questão da culpa dentro da sexualidade feminina é assunto de longa data. Na maioria das vezes, a origem está na repressão sexual cultivada nas famílias, na sociedade, por nós mesmos e ainda no nosso cotidiano. Estamos em 2006, e ainda é bastante comum no consultório observar casos de disfunções sexuais ou inadequações sexuais provenientes da repressão que acaba gerando a culpa. E é esta culpa que gera a queixa que muitas vezes invade o consultório dos profissionais.

Mas de onde vem tanta culpa? Normalmente, surge quando os valores e regras aprendidos ao longo de nossas vidas controlam a vivência da sexualidade, tornando isto um fardo para muitas mulheres. Sim, eu disse mulheres. Estas são as grandes vítimas da repressão/culpa, pois aprendem muitas vezes desde cedo que sexo é errado, é feio e sujo. Às vezes, um simples comentário dos pais promove uma série de questões e dúvidas que ficam pendentes durante toda a sua vida. Isso sem comentar na influência religiosa, que normalmente é algo que deve ser avaliado em alguns casos.

Em um dia desses, atendi uma jovem de aproximadamente 26 anos, que me contava com toda angústia que ainda não tinha conseguido concretizar a relação sexual, embora esteve casada há alguns anos. Tentei entender tudo o que ela me falava, porque trazia esta dificuldade ao meu consultório e pude perceber nas coisas que me contava que sua história era repleta de repressão, de falta de informação sobre sexo, de silêncio a respeito do assunto. Depois que cresceu, e conseqüentemente, tornou-se mulher, sua mãe a proibiu de brincar com os primos. Dizia que era perigoso. Apenas isso. Nunca lhe explicou sobre a menstruação e suas conseqüências. Nunca a orientou sobre o sexo. Dizia, que meninas tinham que estar no meio de outras meninas. E esta afirmação foi acompanhando toda a história de vida dessa pessoa, sem nenhum questionamento. Ela aceitou o que a mãe havia lhe falado. Hoje em dia, sente-se frustrada, impotente e culpada quando o marido a procura para uma noite de amor. Não consegue se permitir, abrir-se para o prazer, vivenciar sua sexualidade. Afinal, como ter prazer com algo que aprendeu que é pecado? Lê artigos, às vezes conversa com as amigas tentando se aproximar um pouco daquilo que lhe parece normal, mas continua angustiada, porque muitas vezes o que observa como normal nos outros não é normal para ela. Sente-se uma estranha. Acha que o problema só acontece com ela. É uma culpa sem fim.

Embora a moral sexual e nossos valores tenham se transformado nos últimos 40, 50 anos, a censura a respeito do sexo ainda é algo que está muito vivo no inconsciente das pessoas. Podemos achar que estamos vivendo uma nova época em que a revolução feminina gerou mudanças significativas em nossas vidas, mas na prática não é bem assim que funciona.

Penso que ainda haverá um longo caminho pela frente para que muitas mulheres consigam ter uma relação única e exclusiva de prazer com o sexo. Assim como as mulheres lutaram anos pela independência feminina, terão que lutar outros anos para a emancipação no sexo. Emancipação das idéias que aprisionam, que as fazem reféns de uma história que não é sua e sim, que pertence ao passado e aos valores de sua família.

Sempre digo que herdamos muitas coisas de nossos pais, de nossa família. Resta, quando adultos, podermos escolher o que fazer com tudo isso. Existem idéias herdadas que fazem mal à sua vida sexual? O que você pensa a respeito de sexo é SEU ou foi o que herdou? Essas são perguntas importantes para o começo de uma reflexão.

Enquanto a repressão e a culpa venceram o prazer, a experiência sexual saudável estará condenada, e as mulheres continuarão se queixando em pleno século XXI de suas dificuldades sexuais.


Fonte: http://mulher.cidade.com/article.asp?1024~348891

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