... porque é que enquanto nessa qualidade de funcionária pública:
- O organismo da administração pública onde trabalha nunca foi nem será considerado o melhor serviço do Estado para as mulheres trabalharem?
-Não tem possibilidades de ter todas as manhãs um pequeno-almoço oferecido pelo organismo da administração pública onde exerce funções, simplesmente porque não pode servido na cafetaria que não existe, ou de tomar bebidas gratuitas, como um chá gelado ou um café?
- Não pode fazer ioga durante o período normal de trabalho ou ir às aulas de ginástica após esse período que lhe sejam pagos pelo organismo da administração pública onde exerce funções?
- Não lhe é oferecido pelo organismo da administração pública onde exerce funções uma sessão de manicura, por exemplo, às segundas-feiras, ou massagens anti-stress, às quartas-feiras?
- Não pode usufruir de consultas gratuitas de Nutrição oferecidas pelo organismo da administração pública onde exerce funções?
- Não lhe pode ser concedido o luxo de ter consultas de Psicologia gratuitas pelo organismo da administração pública onde exerce funções?
- O organismo da administração pública onde exerce funções nunca foi, nem será mencionado por qualquer revista de gestão como um local óptimo para trabalhar enquanto mulher?
- No organismo da administração pública onde exerce funções não existe qualquer cultura da responsabilização, apenas de cumprimento de objectivos burocráticos que se esquecem facilmente e depressa no espírito de todas as mulheres que lá trabalham?
- O organismo da administração pública onde exerce funções requisita temporariamente, por comissão de serviço extraodinário, os seus dirigentes máximos que chegam sempre de um mundo diferente, para formatar o seu trabalho e não para melhorar o serviço de atendimento ao utente?
- O organismo da administração pública onde exerce funções não lhe deixa fazer a gestão do tempo da maneira que quer?
- O organismo da administração pública onde exerce funções se detectar que ela se ausentar uma semana, sem vir ao seu local de trabalho, apenas se preocupa em marcar faltas injustificadas, sem se preocupar com o facto dela ter trabalhado em casa?
- Não tem, nem faz parte de uma equipa de trabalho, mas sim uma hierarquia burocrática, onde o contacto pessoal é irrelevante?
- O organismo da administração pública onde exerce funções não lhe permite chegar ao local de trabalho por volta das oito e meia, e lhe impõe sempre que chegue às 09:00 horas, momento a partir do qual em que o seu trabalho é sempre igual, sempre todos os dias da semana?
- No organismo da administração pública onde exerce funções não é convidada a participar nas grandes decisões, não é envolvida em qualquer uma das reuniões realizadas pelos dirigentes máximos, não testa os procedimentos e não tem possibilidade de os melhorar consoante as dificuldades que vai detectando, e não formação, porque tem que aprender em casa e aí estudar sozinha todas as leis e circulares internas que vão sempre distribuídas naquele serviço?
- O organismo da administração pública onde exerce funções não tem sequer um plano individual de formação perfeitamente aplicável ao seu caso, e depois faz-lhe uma avaliação de desempenho negativa?
- O organismo da administração pública onde exerce funções nunca lhe disse que o utente é como um utente: É a sua razão de existir e tem sempre razão!
- O organismo da administração pública onde exerce funções não premeia o risco de ela apresentar inovações do serviço público que presta?
- O organismo da administração pública onde exerce funções quando tem conhecimento de que ela obtem resultados positivos, não lhe dá um aumento no salário e a subida da categoria profissional por mérito para fazer o que quer com vista a melhorar a prestação do serviço?
- Ela nunca é reconhecida pelo seu trabalho, nem existe ninguém que a motiva, por parte do organismo da administração pública?
- O organismo da administração pública onde exerce funções desconhece totalmente as potencialidades do uso das novas tecnologias, que possibilitam que ela possa trabalhar em qualquer lugar e não lhe dá um portátil, com acesso à Internet móvel, e às bases de dados daquele organismo?
- O organismo da administração pública onde exerce funções não sabe o que é o conceito de família, porque quando tem filhos, o que os dirigentes máximos pensam logo é que vai faltar mais, porque a criança fica doente ou terá reuniões na escola.
- O organismo da administração pública onde exerce funções não tem respeito pela vida pessoal dos colaboradores?
- No organismo da administração pública onde exerce funções não tem outra possibilidade de sair às cinco horas, para ir buscar os seus filhos à escola, sem ter socorrer à figura jurídica da jornada contínua e passar por toda a burocracia inerente?
- O organismo da administração pública onde exerce funções não deixa que ela trabalhe a partir de casa algumas tardes por semana para estar mais tempo com as suas crianças?
- O organismo da administração pública onde exerce funções não lhe deixa optar por um horário parcial, sabendo que ela está grávida ou é recém-mamã?
- No organismo da administração pública onde exerce funções não existem infraestruturas sociais que incentivam a sociabilização entre as suas colegas e com os seus próprios familiares, inclusive os filhos, nomeadamente salas de diversão, piscinas, ginásio, etc.?
- O organismo da administração pública nunca lhe dá a oportunidade de trabalhar num serviço público congénere num outro país do mundo à sua escolha, e em que seja possível levar também os seus filhos?
- No organismo da administração pública onde exerce funções não se pode dar ao luxo de ter um filho, porque isso lhe vai prejudicar a progressão na carreira, porque simplesmente a abertura do concurso público interno ocorre mesmo em cima do período em que está com uma gravidez de risco ou está a gozar a licença de maternidade, sem que os serviços de gestão de recursos humanos se importem com tal facto e não lhe comuniquem daquela abertura, acabando por não apresentar a sua candidatura dentro dos prazos legais e assim fica para trás das suas colegas só porque tomou a decisão de ser mãe?
- O organismo da administração pública onde exerce funções não lhe dá um lanche todas as tardes e lhe oferece cestos de fruta disponibilizados em todos os pisos do edifício onde trabalha?
- No organismo da administração pública onde exerce funções não existe um departamento especializado para tratar das dificuldades diárias e documentos que precisa de obter noutros serviços do Estado, seja para reparar os seus sapatos, procurar uma baby sitter, entregar as declarações do IRS, fazer um duplicado das chaves de casa, pôr roupa na lavandaria, fazer uma bainha na saia, tirar um passaporte, etc., de forma a poupar tempo e a usar o seu tempo de uma forma mais produtiva?
- No organismo da administração pública onde exerce funções não existem rastreios à sua saúde, como por exemplo a análise da Síndrome Metabólica (check-up total)?
- O organismo da administração pública onde exerce funções nunca se preocupou com o que verdadeiramente interessa a essa mulher: Equilibrar a vida profissional e privada, como condição essencial à sua felicidade?
Inspiração:
Como é trabalhar para Bill Gates.
A Microsoft foi considerada a melhor empresa para as mulheres trabalharem.
Nós fomos até lá, andámos a meter o nariz em todo o lado e descobrimos porquê!
Pequeno-almoço oferecido pelo patrão, ioga e manicura às segundas-feiras, consultas de Nutrição e massagens gratuitas... A ACTIVA decidiu ver com os próprios olhos o que se passava na Microsoft Portugal para ter sido considerada pela revista “Exame” a melhor empresa para as mulheres trabalharem.
Tirámos um dia para trabalhar para o Bill Gates e “colámo-nos” como uma sombra a Sofia Tenreiro, 32 anos, responsável pela Divisão de Entretenimento da Microsoft Portugal. Na empresa há um ano, Sofia deixa transparecer uma alegria capaz de nos pôr verdes de inveja: “A cultura da responsabilização faz com que se entre depressa no espírito da empresa. Estive sempre ligada ao Marketing, em áreas que não tinham nada que ver com tecnologia. A Microsoft contratou-me por vir de um mundo diferente, não para me formatar.”.
Então, e qual é o horário? Sofia sorri e balbucia “Bem...”. Um segundo de silêncio e eis que surge a razão daquele enigmático sorriso: “Em outras empresas há um horário a cumprir; aqui, é cem por cento responsabilização. Faço a gestão do tempo da maneira que quiser. Se estiver uma semana sem vir ao escritório e a trabalhar de casa, posso fazê-lo. Não o faço porque tenho uma equipa e o contacto pessoal é importante.”.
Sofia gosta de chegar à empresa por volta das oito e meia, mas o seu dia de trabalho é sempre diferente, excepção da segunda-feira, quando reúne com a sua equipa, formada só por mulheres: “Tenho muitas reuniões, testo os produtos e faço formação.”.
Cada colaborador tem um plano individual de formação, que é feita, na maioria dos casos, à distância, através de gravações vídeo. “Assim, não tenho de faltar a uma reunião importante com um cliente: posso organizar o dia e tirar quarenta e cinco minutos para a formação.”.
Sofia sente-se satisfeita: “A empresa premeia o risco. Desde que tenha os resultados, posso fazer o que quiser. Somos reconhecidos pelo nosso trabalho, e isso motiva-nos." sem ficar para trás”.
E, sim, a empresa funciona e factura! Prova disso é ter recebido, em 2007, o prémio de melhor subsidiária entre os países de média dimensão, entre mais de 100 filiais. Um dos segredos é fazer uso das novas tecnologias, que possibilitam trabalhar de qualquer lugar. Mas como nem só de trabalho vive o homem (ou, neste caso, a mulher), a Microsoft leva esse aspecto em consideração: “Aqui o conceito de família é muito importante, ao contrário de outras empresas, em que se pensa que uma mulher que tem filhos vai faltar mais, porque a criança fica doente ou há reuniões na escola. Existe respeito pela vida pessoal dos colaboradores.”.
Parece estranho, não é? Mas isso reflecte-se numa política de recursos humanos que facilita a vida aos papás: a maior parte dos colaboradores sai às cinco horas, para ir buscar os filhos à escola, ou trabalham a partir de casa algumas tardes por semana para estarem mais tempo com as crianças, sendo possível às grávidas ou recém-mamãs optarem por horário parcial.
Além disso, incentiva-se a sociabilização entre colegas - criando campeonatos de matraquilhos e de futebol - e com as próprias famílias, mediante actividades que envolvam não só os pais, mas também os filhos. Tudo isto sem “cortar” as pernas em termos profissionais: “Temos possibilidade de desempenhar cargos noutros países europeus, sem ser necessário 'mover' a família, o que implicaria, por exemplo, tirar as crianças da escola.”.
“Graças aos meios tecnológicos ao nosso dispor, é viável trabalhar em Genebra e só lá irmos dois dias por semana.”. Por isso mesmo, Sofia está segura: “Posso ter um filho sem prejudicar a carreira. Sei que não vou ficar para trás se decidir ser mãe.”.
As benesses para os trabalhadores são muitas, mas Sofia realça o pequeno-almoço gratuito, servido na cafetaria todas as manhãs: “Saio sempre de casa a correr e, agora, chego e tenho uma refeição à minha espera; também aprecio os cestos de fruta disponibilizados em todos os pisos.”.
O e-bairro é um dos serviços com mais saída. Tem documentos para tratar? Leve-os para o trabalho, entregue-os a uma colega e ela trata de tudo. O mesmo se aplica à reparação de calçado, babysitting, entrega de declarações do IRS, duplicado de chaves, entre outros. Sofia conhece-o bem, pois recorre a ele quando precisa de pôr roupa na lavandaria ou de fazer umas bainhas nas calças: “É uma óptima ideia (concebida pela Microsoft Portugal) e que nos poupa tempo, que podemos usar de forma mais produtiva.”. Se a isto juntarmos as bebidas gratuitas, as aulas de ginástica ao final do dia e de ioga às segundas, as massagens anti-stress, os serviços de Psicologia, as consultas de Nutrição (para os colaboradores e seus filhos), a análise da Síndrome Metabólica (check-up total), além de acções anuais, como a promoção de um Mês Saudável, percebemos por que Sofia está realizada: “Aqui consigo equilibrar a vida profissional e privada. Isso é raro, mas é essencial à nossa felicidade.”.
Fonte:
Revista Activa, n.º 211, Junho de 2008, página 278.
http://www.ver.pt/conteudos/Detalhes_Clipping_Data.aspx?Ev=2468
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