As próximas palavras têm uma destinatária.
Mesmo que ela ainda não as possa ler porque não consegue, se Deus quiser, um dia, poderá confirmar qual era o estado de alma do seu pai nestas semanas antecedentes ao seu nascimento.
Um nascimento, prova que na nossa vida, as palavras vida e morte rodeiam-nos ao longo da nossa existência.
Antes mesmo de escrever o que penso sobre o nascimento da minha filha e da felicidade que eu e a sua mãe sentimos, gostaria de fazer aqui uma consideração que julgo indispensável.
Se há alguns tempos atrás, lesse textos destes ou manifestações semelhantes, acharia enternecedor mas, se isso fosse completamente exagerado, sentiria que tal era eventualmente sentimento a mais para algo de normal na vida, ou seja, ter um filho.
Hoje, sou forçado a reconhecer que estava errado.
Para quem não se imaginava ver CD’s de Ecografias, tirar centenas de fotos ou a fazer outras coisas que tais, sou obrigado a concluir aquilo que muitos pais já concluíram durante o mesmo processo, isto é, ficamos verdadeiramente diferentes quando passamos por essa experiência maravilhosa.
Ver nascer uma filha é um privilégio.
E é dessa forma que me sinto.
Mesmo que ainda me faça confusão no futuro próximo o seu choro porque não sei muito bem o que devo fazer.
Mesmo que ainda leve tempo a aperfeiçoar a mudar fraldas ou a tentar dar-lhe banho.
Mesmo inclusive que o meu metabolismo esteja completamente alterado e que o cansaço pelas noites mal dormidas venha a ser uma constante durante o dia.
Vale tudo a pena, vale sempre a pena.
Seja por vermos nascer algo que é nosso, seja por percebermos que a partir de agora somos responsáveis por tudo o que lhe possa acontecer.
Não sei o que serás, “minha querida filha” (Expressão tão repetidamente dita pela tua avó).
Nem sei mesmo como o serás.
Sei é que és um enigma (no bom sentido) que procurarei educar e acompanhar.
Sei também que ainda hoje, graças ao teu nascimento, ando completamente na lua, ainda que de uma forma esforçadamente discreta, tentando vir à terra de vez em quando para tratar daquelas coisas terrenas e burocráticas de que é feito o nosso quotidiano.
Por agora, enquanto sonho a ver-te tranquilamente no meu colo ou no da tua mãe, recordo os primeiros minutos em que soube que ela estava grávida, o teu nascimento e os primeiros segundos que terás na tua longa vida, o olhar fixo que irás fazer como que se falasses sem esboçar qualquer palavra e a vontade enorme que tenho para te dizer que, por fim, és um dos amores que justifica plenamente a minha vida!
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