22 maio 2008

Por vezes é muito difícil escolher o amor ... mas mais complicado é não o encontrarmos quando ele está mesmo à nossa frente.

O filme “Two Lovers” conta a história de um homem em dúvida entre a noiva escolhida pela família e a nova vizinha, por quem está apaixonado.

Um homem na casa dos 30 que ainda encontra-se perfeitamente instalado no seio da sua família.

Há uma mulher que mora com o pai e a mãe, judeus no ramo da lavandaria, num apartamento nova-iorquino da classe média trabalhadora.

O homem revela-se aos poucos uma personagem masculina com visão diferenciada de mundo e uma melancolia amorosa que define quem ele é através da sua relação com mulheres.

Porquê é tão raro ver num filme um homem de conduta normal, tentando lidar, seja honesta ou instintivamente, com os seus problemas, pouco ou nada, espectaculares?

As mulheres que ele conhece chamam a atenção pela facilidade que têm para expressar o que sentem, de maneira sempre muito aberta, sem complexos nem tabus.

E depois de um longo período de abstinência sexual para o homem, eis que surgem duas mulheres especiais que o fazem pensar sobre a necessidade de tomar uma decisão, embora ambas surjam ao mesmo tempo na mesma semana.

Uma é a filha de um casal amigo da família, os Cohens, e os dois patriarcas cogitam juntar as suas duas empresas do mesmo ramo, e seria perfeito para todos se ele e ela se apaixonassem, noção ligeiramente perturbadora e, ao que parece, comum entre americanos.

A união amorosa casa com a de capital, e chama a atenção como as duas famílias aparentam ser tranquilas, sem qualquer sinal de planeamento manipulador ou cinismo maldoso.

Já a outra é um outro tipo de mulher: É a vizinha que acaba de se mudar, transforma-o num amigo e confidente, e ao que parece puxa-o para uma queda gigantesca pela moça confusa.

Ela fala com delicadeza sobre a situação amorosa difícil na qual se encontra com um outro homem, e o o seu efeito e doçura machucada revelam-se atordoantes para ele, que já não vê sentido em manter a foto de um doloroso amor passado na sua cabeceira.

Ele é jovem, um cinéfilo, e conheça um diretor pelos detalhes que ele insere nos seus filmes que, curiosamente, nunca realmente me pegaram até este. Olhando para Izabella Rossellini como a mãe de Reginald, lembrei da atenção que ele dá às presenças maternas ao longo da sua obra, mães interpretadas por atrizes formidáveis, sempre. Vanessa Redgrave em Odessa, Ellen Burstyn em The Yards, Rossellini agora.

Ao final da sessão, colegas apontaram que o filme trazia algo da aura de, de Blake Edwards, idéia de interessante procedência.

O filme, que não sei porque razão me faz lembrar a Bonequinha de Luxo do filme “Breakfast at Tiffany´s”, talvez pelas cenas se passarem em Nova Iorque, chega a um final que atinge um nível pouco explorado de filosofia emocional.

É um drama romântico moderno, que podia ser o retrato fiel de uma cena da tua ou da minha vida, sobre uma bela história de amor, que podia ter já acontecido ou comigo em que houve ou estará para acontecer uma difícil escolha entre o coração e a razão de um homem atormentado, dividido entre duas mulheres completamente diferentes, mas que são decalcadas das personagens femininas e maternais.


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