Na pele dissimulada de uma executiva de sucesso, uma mulher de 41 anos atravessa uma crise depressiva na sequência da morte do seu companheiro e protector de longa data, o qual lhe despertou os sentidos na sua tenra idade fazendo com que descobrisse a sua condição de ninfomaníaca por mais de 20 anos.
Antiga acompanhante de luxo, Maria Teresa Albuquerque de Noronha debate-se agora com as angústias da patologia que traz consigo, do envelhecimento e da solidão, ainda que durante o dia esteja rodeada de colaboradores que lhes distraem as suas verdadeiras preocupações.
Vive agora sozinha num faustoso apartamento lisboeta, suspirando com a casa do seu amante parisiense, apenas saindo do seu exílio domiciliário para se encontrar com uma ou outra amiga, embora se queixe de que já ninguém lhe telefona, na lamentável ditadura da felicidade material em que vive, onde uma deprimida no ambiente profissional em que compete é infelizmente quase vista como uma azarenta de quem todos fogem ou ignoram.
Para aliviar a tensão da sua solidão, e sem que nenhuma das suas amigas o saiba, excepto a sua mais fiel confidente, paga a jovens prostitutos para ter sexo, mas infelizmente parece até já não encontrar neles grande satisfação (talvez os efeitos colaterais da dedicação profissional que tanto faz questão de incutir pessoalmente nos seus negócios lhe provoquem uma diminuição da libido, ou, como diz a uma velha amiga, talvez haja sublimado os impulsos sexuais por se encontrar numa fase em que carece sobretudo de afecto).
Faz psicanálise três vezes por semana, confessando ao analista que cada vez mais contempla o sexo como uma satisfação mecânica, tal como fazer a depilação, ambas necessidades que o seu corpo feminino lhe impõe.
Em casa, com insónias, indisposta, abúlica, frustrada por não se conseguir vir com os jovens com quem anda ultimamente na cama (encontra-se bloqueada), começa a apreciar o prazer de dormir, fumando sozinha, bebendo café sozinha, vendo televisão na sua sala sozinha (sim porque rejeita o facto de ter no quarto uma televisão, local que sempre elegeu como momento de repouso total ou excitação sexual inebriante onde não há lugar para a realidade televisiva).
O seu corpo abatido e os olhares inexpressivo de quem pensa sobre o que lhe reserva ainda a vida, espelham a morte que lhe vai na alma, num estado de quase morta-viva, tão característico de quem sofre de depressão.
Maria Teresa Albuquerque de Noronha confronta uma realidade seca, dura e pessimista da condição de alguém, que numa idade de 41 anos, em que o idealismo e hedonismo da juventude há muito se tornaram impossíveis, e o prematuro fantasma da solidão é uma presença que assombra e priva de ânimo todos aqueles que de algum modo sempre viveram na sua sombra.
Contudo, ainda que as angústias existenciais lhe devorem os seus fantasmas, acredita na felicidade (sobretudo na dos outros), porque quer amar e ser amada.
Nos negócios actua como uma espécie de “prostituta”, alguém sem ligações (É consultora independente), sem lugar (É uma permanente viajante aérea em classe executiva, saltitando de países como a sua imaginação multilingue), sem raízes (É indiferente se trabalha para uma empresa, a qual já foi concorrente de outras para quem trabalhou), e na sua intimidade tem uma pequena esperança de ressurreição enquanto ser feminino, apesar de saber que temporariamente se encontra doente espiritualmente, e porque há indubitavelmente um obscuro anátema que ainda hoje impende sobre mulheres como ela que adoram sexo, principalmente sobre aquelas que não se vergam à triste cobardia do conformismo matrimonial católico que cala e consente que a mulher viva sob o medo, a indiferença, o silêncio de que tudo está mal, mas que exteriormente para a sociedade em que está inserida o que importa é a perpetuação da aparência e da falsidade de que tudo está, afinal, muito bem e recomenda-se.
Como eu te compreeendo, minha amiga Maria Teresa Albuquerque de Noronha …
O autor do blog
* Nota: O desabafo aqui expresso estará sempre precedido por uma legenda (disclaimer) que esclareça que qualquer semelhança com a realidade é pura coincidência.
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