19 dezembro 2008

Carta de um Funcionário Público ao Ministro

Exmo. Sr. Ministro,

Vou alterar a minha condição de funcionário público, passando à qualidade de empresa em nome individual (como os taxistas) ou de uma firma do tipo
"Jumentos & Consultores Associados Lda." e em vez de vencimento passo a
receber contra factura, emitida no fim de cada mês.
Ganha o ministro, ganho eu e o país que se lixe!

Ora vejamos:

Ganha o ministro porque:
- Fica com um funcionário público a menos.
- Poupa no que teria que pagar a uma empresa externa para avaliar o meu
desempenho profissional.
- Ganha um trabalhador mais produtivo porque a iniciativa privada é, por
definição, mais produtiva que o funcionalismo público.
- Fica com menos um trabalhador, potencial grevista e reivindicador que por muito que trabalhe será sempre considerado um mandrião.

E ganho eu porque:
- Deixo de pagar na totalidade todos os impostos a que um funcionário
público está obrigado, e bem diga-se, pois passo a considerar o salário
mínimo para efeitos fiscais e de segurança social.
- Vou comprar fraldas, champôs, papel higiénico, fairy, skip e uma
infinidade de outros produtos à Makro que me emite uma factura com a
designação genérica de 'artigos de limpeza', pelo que contam como custos
para a empresa.
- Deixo de ter subsídio de almoço, mas todas as refeições passam a ser
consideradas despesa da firma.
- Já posso arranjar uma residência em Espanha para comprar carro a metade do preço ou compro um BMW em leasing em nome da firma e lanço as facturas do combustível e de manutenção na contabilidade da empresa.
- Promovo a senhora das limpezas lá de casa a auxiliar de limpeza da firma.
- E, se no fim ainda tiver que pagar impostos, não pago, porque três anos
depois o Senhor Ministro adopta um perdão fiscal; nessa ocasião vou ao banco onde tinha depositada a quantia destinada a impostos, fico com os juros e dou o resto à Administração Tributária.

Mas ainda ganho mais:
- Em vez de pagar contribuições para a Caixa Nacional de Pensões, faço aplicações financeiras e obtenho benefícios fiscais se é que ainda tenho IRS para pagar.

- Se tiver filhos na universidade eles terão isenção de propinas e direito à
bolsa máxima (equivalente ao salário mínimo) e se morar longe da
universidade ainda podem beneficiar de um subsídio adicional para
alojamento; com essas quantias compro-lhes um carro que, tal como o outro, será adquirido em nome da firma assim como manutenções e combustíveis.
- Se tiver um divórcio litigioso as prestações familiares que o tribunal me
condenar já não serão deduzidas directamente na fonte e recebo o ordenado
inteiro e só pago se me apetecer...!
Como se pode ver, só teria a ganhar e já podia dizer em público o nome da
minha profissão sem parecer uma palavra obscena, afinal, em Portugal ter
prejuízo é uma bênção de Deus!

Está visto que ser ultra liberal é o que realmente vale a pena ...

Atentamente
A. de Sousa

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