O Alegre quis causar confusão entre a esquerda e fingindo que se distanciava do PS, que ele próprio já reconhece ser de direita.
Ora um Homem que se diz de esquerda e continua agarrado ao poder de uma ditadura de direita é um ser inqualificável por natureza política.
O Bloco de Esquerda apoia este tipo de personalidades individuais porque baseia-se na inexistência de uma linha programática e numa posição conformista de oposição de minoria perpétua e fatalista, que se socorre apenas das críticas àqueles problemas diários que são tornados públicos por interesse dos próprios meios de comunicação social controlados pelos capitalistas amigos do governo.
Para quem consegue filtrar aquilo que os meios de comunicação social gostam de destacar conseguiu logo perceber que o principal objectivo era o aumento da popularidade do PS, porque no fim de contas, o grande poeta e escritor Alegre, nunca admitiu que vai desligar-se politicamente do PS, facto que também não aconteceu quando concorreu às últimas Presidenciais e retornou à bancada parlamentar do PS enquanto deputado, após a sua derrota.
Mas porque é que os portugueses esquecem tão rapidamente a importância das lições históricas e da sua dialéctica?
Será que o aconteceu no mundo em 2008 não é o mesmo que o que se passou na Grande Depressão de 1923 em Wall Street, onde a origem é a avidez descontrolada do sistema capitalista sem regras, nem fiscalização, nem democracia?
E o problema deste país é que eu continuo com MEDO que o PS volte a ganhar (mesmo que não seja por maioria absoluta), sem que exista massa crítica suficiente para conseguir discernir qual é o único partido fiel às suas convicções.
Finalmente, há quem reconheça passados tantos anos que o PSD é um grupo de individualidades da nobreza que se pauta por um silêncio e um vazio quanto ao futuro deste país, e que o CDS são figuras da realeza que andam mais preocupadas com os lugares internos na "corte" do que propriamente com a sustentabilidade da democracia em Portugal.
Mas tal é insuficiente para quem quer, como eu, mudar.
De Alegres está a sociedade portuguesa minada porque a maioria das pessoas dizem-se descontentes, mas acabam sempre por votar, já nem sei se é por cegueira (Alusão ao prémio Nobel da Literatura, José Saramago) ou por tradição popular enraízada, naquilo que lhes dizem que a única alternativa de sucessão na cadeira do poder é PS - PSD - PS - PSD - ....
O meu único desejo é que um dia o ciclo se quebre.
E quando chegar esse dia, já não precisarei de escrever, mas apenas viverei bem comigo próprio e com a sociedade que me acolhe.
Anónimo
Inspiração:
A imagem de uma falsa Esquerda na retórica de Manuel Alegre.
Miguel Urbano analisa neste artigo a campanha de intoxicação mediática em curso e a intervenção de Manuel Alegre na reunião por si organizada, a meias com o Bloco de Esquerda.
Miguel Urbano Rodrigues - 18.12.08
Nos últimos dias, um Encontro, intitulado Fórum Democracia e Serviço Público, concebido e montado pelo Bloco de Esquerda e Manuel Alegre, e realizado na Reitoria da Universidade de Lisboa, foi transformado em grande acontecimento nacional pelos mass media.
Os colunistas com banca nos jornais e os comentadores com programas na TV deram-lhe atenção prioritária, multiplicando as interpretações sobre o significado da intervenção de Manuel Alegre no fecho da iniciativa. Alguns epígonos, entusiasmados, proclamaram que essa oração abria um novo rumo à esquerda em Portugal.
A euforia revela incompreensão do que foi ali dito e a maioria das análises contribuiu para aumentar a confusão gerada pela mensagem do veterano militante do PS.
O discurso de Manuel Alegre foi uma peça de retórica tradicional com recheio de ideias velhas.
No preâmbulo fez um breve inventário da crise, lembrando que tudo corre mal. Disse o óbvio, tomando distância da política de direita do seu partido.
Para ser bem entendido, recorreu a exemplos para contrapor o positivo – isto é o que se deve fazer em épocas de crise – ao negativo, ou seja a estratégia de Sócrates, sem alias lhe citar o nome. Elogiou então Roosevelt e o seu new deal, a esperança de Obama e a grandeza de Leon Blum.
Esse o caminho que aponta à esquerda, tal como a concebe.
O refrão para a mudança foi a palavra coragem. Na sua oratória pediu coragem às esquerdas para mudar a sociedade. Sem ela não há remédios que possam travar a corrida para o abismo e reduzir a desigualdade entre os portugueses, cada vez maior.
Não definiu, porém, o seu conceito de coragem.
A omissão não passou despercebida porque os portugueses progressistas não esqueceram que ele Manuel Alegre, não revelou coragem quando foi membro de um dos governos de Mário Soares, a coragem que lhe faltou ao apoiar durante muitos anos as politicas de direita do PS.
Registei uma breve referência aos males do capitalismo, mas acompanhada de alusões críticas ao PCP, porque o seu socialismo é «o democrático», aquele que tem defendido desde que aderiu ao PS cujo actual primeiro-ministro promove a política mais reaccionária que Portugal conheceu desde o 25 de Abril.
Ao longo da sua oração usou e abusou da palavra esquerda. Por vezes no plural.
Não conseguiu, contudo, transmitir com um mínimo de clareza o que entende por esquerda.
Que esquerda é afinal aquela a que se dirige, na esperança de a mobilizar para o combate por uma sociedade diferente?
Será a do liberal Roosevelt, o criador mitificado do moderno imperialismo norte-americano? O lado positivo do new deal keynesiano como estratégia de intervenção estatal que salvou o capitalismo não apaga o facto de Roosevelt ter sido aliado firme das piores ditaduras latino-americanas. Ou será a esquerda do francês Blum? Terá Alegre esquecido que as medidas progressistas que criaram o chamado Estado do Bem-Estar foram concebidas e impostas (não sem resistência) pelo Partido Comunista Francês, então aliado de Blum no governo da Frente Popular? Quantos portugueses sabem hoje que Blum traiu compromissos assumidos com a República Espanhola ao fechar a fronteira e proibir a entrega a Madrid de armas já pagas?
E a esperança de Obama, o que será? A do candidato que se comprometeu a intensificar a guerra de agressão contra o povo do Afeganistão, a do presidente eleito que escolheu já para seu chefe de gabinete na Casa Branca o sionista inflamado Rahm Emmanuel e vai manter como secretário da Defesa o falcão republicano Robert Gates?
A retórica de Manuel Alegre emergiu bem iluminada quando tentou dar resposta à pergunta: O que fazer?
O seu discurso sempre ambíguo ,adquiriu então uma sinuosidade permanente.
Que disse de concreto?
Apelou aos trabalhadores para intensificarem a luta contra as politicas do PS responsáveis pelo desastre que por aí vai? Dirigiu-se às massas como sujeito da História?
Não.
Apelou sobretudo aos seus camaradas da esquerda do PS para que adiram a um projecto de mudança de contornos mais do que nebulosos porque assenta em esquemas eleitorais de fronteiras indefinidas.
Toda aquela retórica, temperada com morceaux de bravoure, e o vazio de propostas e até de ideias é transparente. Que alternativa ao drama socratiano sugere? Nenhuma.
Uma certeza: o «objectivo programático», a ser elaborado, seria, para além do jogo eleitoral, a humanização do capitalismo, ou seja uma impossibilidade absoluta.
Alguns analistas identificam neste discurso de muita parra e pouca uva um prólogo à criação de um novo partido.
Manuel Alegre foi peremptório ao incentivar a elaboração de «uma nova base programática».
«É preciso ir a votos» - afirmou. É preciso quebrar o tabu «de que a esquerda não quer ser poder».
A sua ambição de poder é transparente. Mas como imagina concretizá-la?
Não houve consenso na assistência e nos media sobre essa questão-chave.
Aliás, transcorridos dois dias embrulhou-se num palavreado desconexo:
«Falei de alternativa de poder, não disse que ia fazer um partido». E acrescentou: «Estes processos são assim, são feitos de ambiguidades e tensões, não posso dizer se vou fundar partido ou não. Isto é um processo, um caminho» (in Publico,16.12.2008).
Em momento algum deixou transparecer a ideia de que estaria prestes a romper com o Partido Socialista que representa na vice presidência da Assembleia da Republica.
É previsível que o folhetim Manuel Alegre prossiga nos próximos dias. O interesse absorvente dos media pela sua fala não surpreende.
A burguesia sempre sentiu fascínio pela retórica, sobretudo quando ela se caracteriza pela vacuidade de ideias.
Serpa, 16 de Dezembro de 2008
Nota dos Editores: Na terça-feira, depois de recebido este artigo, Manuel Alegre foi entrevistado pela SIC Noticias a propósito das suas declarações no Fórum Democracia e Serviço Público . As opiniões que emitiu confirmam, na opinião de Miguel Urbano Rodrigues, aquilo que escreveu sobre o discurso do deputado do PS.
odiario.info
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