12 outubro 2013

A morte é uma obscenidade.

Não sei se os meus livros são uma tentativa de me preparar para alguma coisa, mas lido muito mal com a morte.
Acho a morte uma obscenidade, que quase só por si só basta para explicar que estamos abandonados e que talvez tenhamos sido criados por alguém que nos abandonou.
A vida, num certo sentido, vai ser sempre uma merda porque caminhamos para a tragédia apoteótica, mas que não é gloriosa.
O fim é uma grandessíssima porcaria, o que faz com que a vida tenha uma dimensão quase horrível.
Já fui muito sonhador, mas agora como sou mais desumano sonho menos.
E não sei se suportaria ficar eternamente num mundo assim.
Comigo a vida tem sido muito gratificante, mas, ao mesmo tempo, é muito violenta.
Não consigo sintonizar-me pacificamente com a violência a que estamos sujeitos.
Interessa-me que, quando morrer, que morra completo.
Se tiver cumprido as obrigações e estiver de consciência limpa, talvez não morra nem cedo nem tarde, mas morra certo.

in Jornal "Metro" de 07/10/2013 (página 10), autor Valter Hugo Mãe.

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