15 setembro 2013

O que deveríamos aprender todos com o Colega Misterioso (Undercove​r Boss)?

O que uma certa Administração Pública ou uma determinada Empresa ou Grupo Empresarial que tão bem conhecemos neste país de tão vil pequenez teria a aprender e a ganhar se os seu responsáveis de topo tivessem a humildade de se submeterem a uma experiência destas e a recusarem-se a viver num mundo de fantasias baseadas em objetivos irrealistas (como aqueles que constam num qualquer SIADAP de um serviço do Estado ou num programa de expansão de lojas de uma cadeia de distribuição)....
Para quando a passagem do planeamento BURROcrático para a fase da inovação baseada no respeito pelas pessoas que fazem a própria organização?
O programa televisivo (uma espécie de reality show) com o título "O Colega Misterioso" (ou "Undercover Boss" no original) que passa na estação "SIC Radical" acompanha os responsáveis de cargos executivos de alto nível ou os proprietários ou os CEO´s de grandes empresas e multinacionais que se disfarçam dentro das suas próprias organizações para se assegurarem de que estas estão em bom funcionamento ou para identificarem problemas que têm que ser resolvidos, mas que normalmente nunca lhes chegam a ser transmitidos directamente, e que têm um enorme impacto na produtividade laboral, na qualidade da prestção do serviço ou dos produtos, no ambiente de trabalho, etc..
Este programa mostra, por exemplo, os resultados surpreendentes quando o Presidente Executivo do Conselho de Administração (CEO) de uma grande empresa se mistura com os empregados e trabalha com eles directamente, durante um determinado curto período de tempo, sem que eles saibam que ele é o seu próprio CEO.
Os executivos de topo aceitam, assim, alterarem a sua imagem (Apresentação física, roupa, carro, etc.), nome e história de vida, e fazem-se passar por trabalhadores novatos, estagiários ou recém-contratados, de forma a investigar o funcionamento da empresa e os desafios profissionais e pessoais dos próprios empregados.
E ouvem o que querem e o que não querem directamente da boca desses mesmos empregados.
São alguns dos muitos exemplos: O vice-presidente sénior da associação automobilística NASCAR, o presidente dos restaurantes Hooters, os executivos dos hotéis Best Western, do grupo de construção civil Clugston Group, os CEO da Domino’s Pizza Australia e da Boost Juice, estarão entre os "chefes à paisana", que verão e ouvirão os efeitos que as suas decisões têm nos outros.
Os Directores-Gerais infiltram-se anonimamente nos cargos mais baixos das suas companhias ou ficam a desempenhar as funções mais baixas na hierarquia empresarial, durante pelo menos uma semana, e "sujam-se" tal como os trabalhadores que estão na base da organização, descobrem o que os funcionários realmente pensam deles e só assim é que finalmente descobrem gradualmente como as suas empresas realmente funcionam na prática.
Durante o processo, estes executivos de topo passam a conhecerem-se melhor a si mesmos, enquanto pessoas e a tomarem consciência do que são as reais exigências de um verdadeiro líder na organização a que presidem, ao passarem a conhecer a percepção da sua empresa, a ver através dos próprios olhos dos seus colaboradores, e a sentirem a responsabilidade de implementarem um verdadeiro espírito de equipa nas pessoas que trabalham para eles.
Só assim é que eles descobrem o que precisa ser resolvido, quem merece atenção e/ou quem precisa de um "puxão de orelhas".
É uma experiência emocional intensiva que transforma os "chefes" e as pessoas que trabalham para eles.
E se chegasse um colega novo para trabalhar contigo e ele fosse tão prestável e simpático que tu desabafasses com ele sobre a empresa e o que achavas que não estava bem na gestão da empresa?
E se o novo colega fosse um excelente ouvinte?
Ou se este colega (o teu patrão) ouvisse tudo o que dizes dele nas suas costas?
Pior, e se lho dissesses directamente, cara a cara, mas intencionalmente?
E se depois de dias a fio a partilhar com ele o dia-a-dia de trabalho tu viesses a descobrir que esse colega era, afinal, o teu patrão ou o responsável máximo da empresa, quando fosses na semana imediatamente a seguir a estares com ele chamado a ir à sede da empresa para ele te contar pessoalmente o que achou de tudo o que lhe disses-te e o que iria fazer para melhorar o que considerou estar mal e até te convidasse a aceitares um cargo que iria implicar o teu envolvimento directo na resolução de um determinado problema?
As 3 lições básicas que todos aqueles que assistem ao programa irão aprender são as seguintes:
1.ª) A verdade custa e dói.
Saber o que os colaboradores realmente sentem, pensam da empresa, dos produtos, dos métodos e até dos salários que recebem nem sempre é agradável e pode magoar o ego de qualquer um (CEO), por muito insensível que este possa ser;
2.ª) Embora a realidade seja dura, pode ser divertida.
Nem tudo pode ser mau. O espírito colectivo e o ambiente interno em muitos casos é bem divertido. Para o comprovar basta pensar nas conversas engraçadas e até caricatas que algumas pessoas partilham com os colegas de trabalho estagiários.
3.ª) Nem sempre ter talento profissional depende do "canudo".
Neste programa descobrem-se muitas vezes verdadeiros talentos na empresa que estão em tarefas simples e sem qualquer destaque. Funcionários com grande automotivação, vontade de crescer e cumprir tarefas de excelência, mas que nunca tiveram uma oportunidade.
A moral da história deste programa é a de que conhecer a "linha da frente" ajuda a desenvolver humildade e a contrariar a teimosia de que alguns Directores Gerais padecem quanto ao facto de que só eles é que sabem e têm razão, quando na esmagadora maioria dos casos tal não se verifica.
As boas organizações são-no graças aos muitos heróis desconhecidos que fazem as coisas acontecer no dia-a-dia. Esse é o segredo dos bons colaboradores: fazerem destes gestos de cidadania comportamentos diários e normais.
As más organizações, pelo contrário, têm "tarefeiros", que fazem o seu trabalho sem empenho, sem qualquer ânimo ou motivação, ou fazem porque são obrigados a isso para sobreviver.
Como tal, compete aos colaboradores perceberem o seu trabalho como um exercício de cidadania organizacional e, principamente, aos verdadeiros líderes contactarem com a realidade para reconhecer quem merece, de facto, um reconhecimento, uma recompensa ou um prémio de desempenho.
A importância desta comunicação com a linha da frente é aliás hoje reconhecida para se avaliar se uma pessoa, que poderá ascender a um cargo máximo no topo da hierarquia, poderá estar preparada para efectuar a transição de gestor para líder.
Os bons líderes gostam de ter algum contacto com as linhas da frente. Saem do gabinete e misturam-se. Podem não precisar de se infiltrar, mas compreendem o poder do contacto direto com a "tropa".
Sem este toque do real, o seu mundo organizacional torna-se um universo de fantasia, porventura melhor do que a realidade, mas infelizmente desmentido por ela.

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