11 novembro 2008

Eu só conseguirei viver descansado quando já não me preocupar em fugir da minha morte …

Eu sinto uma enorme dificuldade e desconforto espiritual quando me confronto com a ideia de que um dia vou morrer, com a minha própria morte.

Nunca conseguirei aceitar que um dia a minha existência vai acabar como um simples ponto final definitivo que se aplica quando se quer acabar uma frase.

Eu não consigo perceber a razão pela qual o criador do meu universo quis que eu terminasse a minha vida da mesma forma tão natural que um escritor aplica um ponto final no último parágrafo do seu livro.

Eu mantenho-me vivo, muitas das vezes, para provar ao criador que consigo derrotar o medo da morte, mas sei, no meu mais profundo íntimo, que não vencerei a guerra contra a minha morte, pelo que o tempo apenas me concede pequenas vitórias em batalhas nas quais eu teimo continuar a viver.

A consciência de mim mesmo, como um ser vivo perecível com um período de validade, é um extraordinário presente de que sou dotado, mas esta dádiva tem um preço muito alto, porque traz consigo a consciência da minha mortalidade, que lança uma sombra duvidosa sobre todos os momentos da minha vida.

Os doentes terminais ou aquelas pessoas que recebem uma sentença de vida a um curto prazo certo, depois do choque inicial, descobrem quase sempre que a partir daí vivem com mais intensidade e mais plenamente, gozando cada dia como se fosse o último, e muitas vezes, lamentam apenas só ter aprendido a viver quando a morte já tinha hora marcada.

Eu ainda não aprendi a descobrir o gozo da vida e a apreciar plenamente todos os momentos de cada um dos dias em que tenho a sorte de acordar.

O confronto com a minha morte será o dia mais triste e doloroso da minha vida porque será o momento que lhe retirará qualquer sentido em eu ter existido, o que é uma pena por tudo o que fiz, pensei, ri, chorei, corri, esforcei-me, menti, sofri, enfim, amei.

Dizem-me que se eu for capaz de analisar o meu terror existencial de ter a percepção de que estarei neste mundo apenas, por exemplo, na melhor das hipóteses 85 anos, que sairei reforçado da batalha que travo todos os dias contra a minha morte, mas eu não acredito nisso.

Ninguém sabe porque é que tem que morrer porque ninguém acredita realmente que um dia a sua vida vai terminar.

Todos nós nos ocupamos com coisas triviais, discussões banais, lutas pelo poder e conhecimento, posses materiais, noites de sexo, conquistas profissionais, etc., mas tudo não passa de uma mera tentativa para nos esquecermos, enquanto prosseguimos tais objectivos ou concretizamos tais acções, que um dia vamos morrer.

Ter que morrer é provavelmente a atitude mais conformista que eu mais odeio neste mundo.

Ninguém deveria morrer, mas a verdade é que a morte é sempre a grande vencedora de todas as histórias dos seres vivos como eu e tu.

Na tese do rippling defende-se que a existência de cada um de nós é como uma pedra atirada às águas tranquilas de um lado, e que provocam ondas que se propagam a perder de vista. Cada um de nós é como essa pedra, deixando um bocadinho de si em quem se cruza consigo, e que a vai perpetuar passando-a por sua vez a outros.

É na minha impressão digital, com que marco os outros que me rodeiam e com os quais convivo, mesmo que não deixe gravado o meu nome, nem memória do meu rosto rosto, que reside a minha eternidade.

E por vezes sou tentado a pensar que a minha eternidade se poderá estender através dos meus filhos.

Há também quem me diga que se eu sentir que o terror da morte e do esquecimento da existência por parte da humanidade me está a roubar a alegria de viver, talvez então esteja a viver mal, talvez não esteja a dar-me o suficiente, a estender a minha mão aos outros, a partilhar com eles as suas descobertas e o seu amor.

Como eu gostaria de viver para sempre para ter oportunidades infinitas de perceber o verdadeiro sentido da minha vida e de todas as outras pessoas, e nunca acabar como um simples ponto de escrita, mas ficar igualmente eternamente vivo nas pessoas que gostariam de reivindicar comigo a imortalidade ao nosso criador.

Se eu existo, alguém me criou, mas não admito que esse criador tenha falhado quando não pensou que eu poderia morrer mais cedo ou mais tarde, porque nesse caso o criador está morto e consequentemente para efeitos do sucesso glorioso da morte Ele nunca existiu porque teve também um início e um fim, o que me leva a outra questão de saber quem foi o criador do criador, e por sua vez quem criou o criador do criador, como se um dia fosse importante descobrir qual a origem da minha vida e a razão que justifica a minha morte, se é que a morte tem justificação para quem acredita na vida, como eu.

Este assunto é talvez o enigma mais fascinante da minha existência, mas eu já me dava por satisfeito se conseguisse encontrar o elixir da minha imortalidade, porque o imortal é aquele não foge de morrer e fica perpetuado na memória daqueles que o amam.

O autor do blog


Inspiração:
Jornal gratuito DESTAK, Edição de Segunda-feira, dia 10 Novembro de 2008:
http://www.destak.pt/artigos.php?art=15808

Sem comentários:

Enviar um comentário

Agradeço os seus comentários / Thank you for your comments.

Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.