30 março 2008

O mito da frustação sexual reflecte-se muito nos problemas que afectam as mulheres executivas que fingem adorar trabalhar, mas esquecem-se de amar ...


Um rosto que sofre tão perto das pedras já é ele próprio pedra.

Vejo esse homem descer outra vez, com um andar pesado igual para o
tormento cujo fim nunca conhecerá.

Essa hora que é como uma respiração e que regressa com tanta certeza como a sua desgraça, essa hora é a da
consciência.

Em cada uma desses instantes em que ele abandona os cumes e se enterra a pouco e pouco nos covis
dos deuses.

Sisifo é superior ao seu destino.

É mais forte do que o seu rochedo.

Se este mito é trágico, é porque o seu herói é consciente.

Onde estaria, com defeito, a sua tortura se a cada passo a esperança de conseguir o ajudasse?

O
operário de hoje trabalha todos os dias da sua vida nas mesmas tarefas, e esse destino não é menos absurdo.

Mas só é
trágico nos raros momentos em que ele se torna consciente.

Sisifo,
proletário dos deuses, impotente e revoltado, conhece toda a extensão da sua miserável condição: é nela que ele pensa durante a sua descida.

A
clarividência que devia fazer o seu tormento consome ao mesmo tempo a sua vitória.

Não há destino que não transcenda pelo desprezo.

Albert Camus - O Mito de Sisifo.

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